Ser Benfiquista
Sou do Benfica
E isso me envaidece
Tenho a genica
Que a qualquer engrandece
Sou de um clube lutador
Que na luta com fervor
Nunca encontrou rival
Neste nosso Portugal.
Ser Benfiquista
É ter na alma a chama imensa
Que nos conquista
E leva à palma a luz intensa
Do sol que lá no céu
Risonho vem beijar
Com orgulho muito seu
As camisolas berrantes
Que nos campos a vibrar
São papoilas saltitantes.
No dia em que o Glorioso regressa a San Siro, mas desta feita com o maestro de águia ao peito, eis a muito procurada história do hino do Sport Lisboa e Benfica, inesquecivelmente cantado para a posteridade pelo grande Luís Piçarra:
Paulino Gomes Júnior era o director do jornal do clube. E também ele queria dar ao Benfica uma coisa especial. Uma canção, por exemplo. Uma canção que entrasse no ouvido e no coração e servisse de encorajamento para a caminhada que havia pela frente. Escreveu a letra, a música, e ensaiou tudo a preceito com Luís Piçarra, que ofereceu a sua voz sem par. A estreia em público ficou aprazada para a noite de 16 de Abril, no Pavilhão dos Desportos, por ocasião de um sarau com a receita a reverter pró-Estádio. Seis mil benfiquistas responderam à chamada, enchendo o recinto. A canção de Paulino Gomes Júnior e de Luís Piçarra seria a surpresa da noite. Desconhecendo como o público iria reagir, autor e intérprete aceitaram que a sua actuação acontecesse, discretamente, entre o número musical da artista paraguaia Sarita Antuñez, vedeta do Teatro Apolo, e a exibição do conjunto da «dinâmica e revolucionária» Alzirinha Camargo. Nervosos, os dois homens subiram ao palco. Paulino Gomes Júnior dirigiu-se ao piano, Piçarra ao microfone. A assistência agitou-se naquela desconfiança que sempre suscita a apresentação de uma novidade. Mas quando Piçarra entoou as notas finais de Ser Benfiquista a casa veio abaixo.Conta o jornal O Benfica o que se passou: «O sarau acabou por provocar manifestações clubistas como raras vezes temos visto. Vibrantes, apoteóticas, plenas de euforia, como foi a primeira audição de Ser Benfiquista, culminando em êxito tão clamoroso que o público ovacionou longamente, de pé, autor e intérprete. O próprio maestro, Vítor Bonjour, cederia a batuta ao dr. Paulino Gomes Júnior para que este dirigisse a orquestra na repetição do número.»Nasceu, assim, inspirada pela construção do Estádio da Luz, a canção que ainda hoje se ouve quando o Benfica entra no seu campo. A emoção dessa noite de estreia, há quase meio século, contagiou até os polícias de serviço. «Era de 363$00 a importância da folha de serviço dos guardas destacados para o pavilhão. Tal quantia, porém, foi entregue ao clube pelo senhor Domingos Ribeiro, polícia municipal que, em nome dos seus colegas, afirmou prescindirem dela com muita satisfação, dado o fim a que se destinava – engrossar a lista de dádivas pró-Estádio do Sport Lisboa e Benfica.»
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