quinta-feira, outubro 30, 2008

Talvez XII

Talvez tudo o que vive seja sagrado.

Etiquetas: ,

quarta-feira, outubro 29, 2008

Crónica de João Castanho

João Castanho vivia nas franjas da cidade.
Tinha prole de cinco e mulher de tenra idade.
Madrugava e saía, a duas horas de caminho.
Chegava cedo à obra, com a marmita e o vinho.

Todo o santo dia a mesma falta de carinho,
o mesmo longo percurso frio de estar sozinho,
pateando duas paragens de autocarro até ao metro,
congelado entre olhares glaciais e férreos.

João Castanho trazia frio no estômago e, às vezes, medo.
Não sabia o que dizer quando lhe chamavam preto
e acabrunhava-se se lhe conhecessem apelido, no operário sonho.
Talvez, troçando, se lembrassem do preto que afinal é Castanho.

João Castanho era homem bom por natureza,
sem que Locke lhe falasse de Rousseau.
Vergado pela profunda iniquidade da pobreza,
não creria em quem, num andaime, o crucificou.

Era adolescente quando saiu de casa.
Uma camisa às costas e, na mão, velhos jornais
que julgava ainda assim vender na praça.
Grudou-se a um cargueiro e não mais escreveu aos pais.

Escrever não era mister que agradasse.
Antes punha pronto mãos à obra,
que o pensamento tartamudo em impasse
- naufrágio de palavras que à eloquência da força soçobram...

No entanto, João Castanho era homem de palavra.
Dormia pouco, no meio quarto da semibarraca.
Comia menos, embora muito feijão com arroz,
mas ligava sempre aos pais, de cartão, tocando-os com a voz.

João Castanho tinha dois varões e uma filha.
Trabalhava para dar-lhes o que não podia.
Honesto, previdente, não esquecia a família.
Por eles era um pai ausente em tristezas e alegrias.

Numa tarde de sol enfurecido, sentado no andaime,
João Castanho parou para pensar com os seus botões
no que fazer para que a vida mais o estime e ame,
e contemplou apenas os sorrisos das suas carnais criações.

João Castanho não sabia se temer mais a dor
ou o dia final dos dias - morrer.
Não sabia se recear não ter feito melhor
ou não ter feito algo que devesse esquecer.

E ia assim João deixando-se envelhecer,
sem actos de revolta nem profunda desilusão,
atenuada por três filhos saudáveis a crescer,
que um dia o chorariam inerte num caixão.

Mas o pai extremoso dera o nome ao primogénito,
primeiro universitário da família, adolescente ainda.
O desejado, o mais custoso, não era génio ou erudito,
nem dos três o mais bonito, mas a esperança faminta.

João Castanho Filho, 18 anos, estudante,
tinha sobre os ombros o futuro da família.
Não era seguidista nem beligerante,
mas teve, certa noite, de fazer uma vigília.

Amigos de infância, do gueto, da circunstância,
exigiram-lhe atenção junto à loja de conveniência.
Dez da noite, vinha das aulas sereno, saído do metro.
Era um assalto e às onze chorava preso, imerso em medo.

Interrogado, pontapeado, humilhado,
o preto confundido com a maralha
afinal era Castanho, filho de emigrado
com risível apelido adequado à canalha.

Morreu ovelha branca do rebanho,
João Castanho Filho, na esquadra da Avenida.
Nascera do amor dos pais Castanho,
para ser preto toda a vida.

No século XXI

Etiquetas: ,

terça-feira, outubro 28, 2008

Montagem right away de imagens utilizadas nos posts de algumas das estrofes da "Crónica de João Castanho", terminada hoje. No próximo post, o puzzle deslindado

Etiquetas: , , ,

Crónica de João Castanho (estrofe XVI)

Morreu ovelha branca do rebanho,
João Castanho Filho, na esquadra da Avenida.
Nascera do amor dos pais Castanho,
para ser preto toda a vida.

No século XXI

Etiquetas: ,

segunda-feira, outubro 27, 2008

domingo, outubro 26, 2008

Crónica de João Castanho (estrofe XV)

Interrogado, pontapeado, humilhado,
o preto confundido com a maralha
afinal era Castanho, filho de emigrado
com risível apelido adequado à canalha.

Etiquetas: ,

Talvez XI

Talvez eu devesse ter o dinheiro debaixo do colchão

Etiquetas: ,

Talvez X

Talvez a morte guarde mais segredos que a vida

Etiquetas: ,

sábado, outubro 25, 2008

Candeeiro "Drop", de Stuart Haygarth. DAQUI

Etiquetas: ,

Gás de Síntese

Quando a água for de plástico
num mundo de borracha;
quando voarmos numa nuvem cinzenta
de monóxido comburente,
gaseificado seja o meu lamento,
que sorrio quando te vejo consumir
e deitar fora, porque és feliz assim.
Talvez eu fuja antes, asfixiado, para onde fume
a minha morte em cinzas transcendido.
Talvez o cume das montanhas seque
e o nível dos mares suba,
antes que a bolsa baixe vinte vezes
o PSIquismo dos alienados.
Talvez a crise me leve a carne do prato,
que como batatinhas multipolares
da fécula tuberculosa da humanidade.
Talvez eu finja, como flores de plástico,
não fingir coisa nenhuma.
Quando deixar de ser cobarde,
talvez me torne simplesmente optimista
e retome a leitura de jornais diários
na esperança de encontrar uma pista
que me ajude a mudar o mundo,
já que tudo o que o poderia mudar
foi escrito entretanto, sem sucesso.

Etiquetas:

sexta-feira, outubro 24, 2008

O tempo nunca existiu


*
"O tempo não sabe nada, o tempo não tem razão
O tempo nunca existiu, o tempo é nossa invenção
Se abandonarmos as horas não nos sentimos sós
Meu amor, o tempo somos nós"
*
Excerto de "Eternamente Tu", do amorável Jorge Palma

Etiquetas: ,

Não Tenho Horas Pra Chegar

Eu não ia virar-te as costas.
Apeteceu-me sair, mais nada.
Tinha de viver, tinha de ir,
havia outras coisas para fazer,
que eu nunca tinha feito,
que ninguém alguma vez fizera.
Era eu e mais ninguém, só isso;
apeteceu-me sair, mais nada.
Ah!, e não tenho horas para chegar,
não sei se amanhã estarei contigo,
mas quando te abraçar vai ser bom outra vez.
Não me queiras obrigar;
eu sei que há um mundo convulso lá fora
que não pertence a ninguém.

Etiquetas:

quarta-feira, outubro 22, 2008

Aos Estimados Leitores

A irregularidade do Caderno de Corda deve-se a um excesso de trabalho que, apesar de pouco saudável, terá alguns benefícios. Oportunidade para uma "surfada" pelos arquivos.
Uma palavra de consideração indispensável aos Estimados Leitores, que não esqueço por um dia que passe sem publicação. Ebuliente.

Etiquetas:

quinta-feira, outubro 16, 2008

Talvez IX

Talvez o dia seja cobarde e a noite corajosa

Etiquetas: ,

quarta-feira, outubro 15, 2008

Do filme Innocence. AQUI

Etiquetas: ,

terça-feira, outubro 14, 2008

Crónica de João Castanho (estrofe XIV)

Amigos de infância, do gueto, da circunstância,
exigiram-lhe atenção junto à loja de conveniência.
Dez da noite, vinha das aulas sereno, saído do metro.
Era um assalto e às onze chorava preso, imerso em medo.

Etiquetas: ,

segunda-feira, outubro 13, 2008

Crónica de João Castanho (estrofe XIII)

João Castanho Filho, 18 anos, estudante,
tinha sobre os ombros o futuro da família.
Não era seguidista nem beligerante,
mas teve, certa noite, de fazer uma vigília.

Etiquetas: ,

Etiquetas:

segunda-feira, outubro 06, 2008

Pergunto: o estimado/a leitor/a está a experienciar dificuldades de visualização do Caderno de Corda?

sábado, outubro 04, 2008

Ecos da glória em Bollywood

O Caderno de Corda descobriu AQUI, após aturada investigação, que o próximo blockbuster do cinema de Bollywood, a ser rodado neste momento, fará referência à vitória de anteontem do Benfica. Ao que se sabe, o afamado realizador indiano Rajnish Omparkash é um fervoroso benfiquista. Diz-se, inclusivamente, que estava com um olho na transmissão do jogo e outro na objectiva, durante as filmagens, tendo feito questão de inserir esta curta cena numa parte do filme cujo guião havia sido fumado por um assistente de câmara. Rajnish, que tem contactos privilegiados com a direcção do clube da Luz, gastou milhões de rupias na instalação do canal Benfica TV em todos os seus aposentos, gabando-se de ser o "primeiro indiano com o Benfica no coração e em casa".

n.b. - Este post foi republicado sem a inserção do vídeo devido a incompatibilidades com o Firefox.

Etiquetas: , , , , , ,

quarta-feira, outubro 01, 2008

Foto DAQUI. Em Alfama, Lisboa

Etiquetas: ,