Pela aurora negra omitiu-se o dia.
Antes uivo, clamando realidade,
por quem quis de mim o que não sou,
pelo que quiseram fazer de mim e não deixei.
Não serei a dor de crocodilo
que a chuva varre no vidro da janela,
projectada na cabeceira sem livros nem retratos.
Lágrimas de cotovelo,
disfarçadas em punhais
que dilaceram sorrisos amarelos,
embuscaram-te na sotaina,
cansado deste mundo de prazeres dos outros,
ou em dívidas que nunca te serão perdoadas,
ainda que sejas o melhor homem desde Cristo.
O pior cego não quer ver
açoites de água à beira do deserto oceânico
do que ainda não tem preço.
Diz que os da cimeira internacional
encontraram uma solução.
Aqui em casa, nada mudou
senão os ovos, os bifes e as batatas;
as pizzas, a Coca-Cola e os chocolates,
em menor quantidade.
Entre nós, tenho de ir às compras...
Escolho, pago e ofereço um sorriso à caixa.
"Um bom Natal", dir-me-á,
e replicarei de igual modo,
poupando-a à ironia disto tudo.
Mais uma vez, ao meu querido amigo Gonçalo Cunha pela amizade, inspiração e incentivo
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