domingo, outubro 29, 2023

30 anos depois com Luís Osório na Feira do Livro de Coruche

Tenho de registar a alegria e o privilégio de, 30 anos depois, ter reencontrado (fisicamente) o querido
Luís Osório. O contexto, tão diferente daquele de há três décadas, mas de prismas simbólicos e essenciais tão idêntico. A sequela de uma conversa que durava uma tarde e uma noite inteira na Feira do Livro de Coruche. "E agora é para sempre", Luís. 'Té já.

Daqui:

Fotos: Telmo Ferrerira (CMC)









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quarta-feira, março 11, 2020

Da paranóia e da neurose colectivas

Lido num livro que está a ser escrito:

"Juntando peças, Jeremias não podia deixar de constatar os preparativos para, em última análise, o nascimento de um estado policial global com um governo invisível, omnipotente, que controlava já o governo norte-americano, a União Europeia, a OMS, a ONU, o Banco Mundial, o FMI e toda e qualquer instituição de calibre semelhante. Estava tudo à vista de todos: o terrorismo promovido pelos governos, que, por sua vez, muniam esse mesmo terrorismo; o controlo da população por intermédio da manipulação dos media e do medo; as crises financeiras forjadas para cavar mais profundos fossos entre o pequeno e o grande capital, e entre ricos e pobres de uma forma geral; as pandemias e as doenças criadas em laboratório com o fito de servir múltiplos propósitos geopolíticos, mas também como forma de produzir um efeito de arrastão pelo qual, ciclicamente, as farmacêuticas colhiam os resultados de campanhas de medo minuciosamente planeadas."

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quarta-feira, outubro 03, 2012

Apresentação de 'Sétima-Feira', dia 20 de Outubro de 2012, na Fábrica Braço de Prata

Estimado(a) Leitor(a),

o Caderno de Corda orgulha-se de anunciar que 'Sétima-Feira', o segundo livro de poesia deste que vos escreve, será apresentado no próximo dia 20 de Outubro, pelas 18 horas, na Fábrica Braço de Prata, onde, aliás, decorreu a apresentação de 'Pôr a Escrita em Noite'. Mais uma vez, o momento é, obviamente, de grande importância para o autor, que não dispensa a presença de amigos e família.
Sob a chancela da Corpos Editora, o livro terá um preço de venda ao público de 15 euros. Fico duplamente agradecido aos estimados leitores que divulgarem o convite. Abaixo segue um pequeno mapa da zona onde se realizará o evento.


Fábrica Braço de Prata
Rua da Fábrica de Material de Guerra, n.º 1
(diante dos correios do Poço do Bispo)

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segunda-feira, setembro 06, 2010

Voyant

Num terceiro transe absorto
brota da flor um rosto
divisado pelo desregramento dos sentidos,
longo e imerso,
no padrão de um cortinado.
Submete-se o vidente à sensualidade
hipersensível do espelho nu
da sala vazia
onde Mallarmé acendeu uma vela.
Compreende o vidente a presença esmagadora do imperceptível,
temendo não regar as flores ausentes da sua cela.
O sol não tem sombra.
Transcendente e humano,
numa hesitação prolongada entre o som e o sentido,
o criador de Deus,
divino poeta.

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quarta-feira, fevereiro 10, 2010

Poema cordiano na antologia de poesia "Divina Música"

Capa e paginação de Inês Ramos

Abri hoje a caixa de correio e, lá dentro, um pacote com dois livros. Assim soube que já foi publicada a obra "Divina Música - Antologia de Poesia sobre Música", na qual se inclui um poema inédito de minha autoria. Organizada pelo poeta Amadeu Baptista, comemorativa do 25.º aniversário do Conservatório Regional de Música de Viseu (1985-2010) e com o apoio da Proviseu (Associação para a Promoção de Viseu e Região), esta antologia de poesia contemporânea acolhe cento e trinta poemas de outros tantos poetas de Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde e Timor-Leste, onde constam muitos dos grandes nomes da poesia portuguesa contemporânea e da literatura dos países lusófonos. O trabalho de Amadeu Baptista e Inês Ramos resultou num belíssimo volume de 188 páginas no qual colaboraram:
Adalberto Alves (Portugal)
Affonso Romano de Sant’Anna (Brasil)
Albano Martins (Portugal)
Alexandra Malheiro (Portugal)
Alexandre Vargas (Portugal)
Alexei Bueno (Brasil)
Amadeu Baptista (Portugal)
Ana Hatherly (Portugal)
Ana Luísa Amaral (Portugal)
Ana Mafalda Leite (Portugal)
Ana Marques Gastão (Portugal)
Ana Salomé (Portugal)
Ana Sousa (Portugal)
António Brasileiro (Brasil)
António Cabrita (Portugal)
António Cândido Franco (Portugal)
António Ferra (Portugal)
António Gregório (Portugal)
António José Queirós (Portugal)
António Osório (Portugal)
António Rebordão Navarro (Portugal)
António Salvado (Portugal)
Artur Aleixo (Portugal)
Bruno Béu (Portugal)
C. Ronald (Brasil)
Camilo Mota (Brasil)
Carlos Felipe Moisés (Brasil)
Carlos Garcia de Castro (Portugal)
Casimiro de Brito (Portugal)
Cláudio Daniel (Brasil)
Cristina Carvalho (Portugal)
Daniel Abrunheiro (Portugal)
Daniel Maia-Pinto Rodrigues (Portugal)
Danny Spínola (Cabo Verde)~
Davi Reis (Portugal)
Donizete Galvão (Brasil)
E.M. de Melo e Castro (Portugal)
Edimilson de Almeida Pereira (Brasil)
Eduardo Bettencourt Pinto (Angola)
Eduíno de Jesus (Portugal)
Ernesto Rodrigues (Portugal)
Eunice Arruda (Brasil)
Fernando de Castro Branco (Portugal)
Fernando Echevarría (Portugal)
Fernando Esteves Pinto (Portugal)
Fernando Fábio Fiorese Furtado (Brasil)
Fernando Grade (Portugal)
Fernando Guimarães (Portugal)
Fernando Pinto do Amaral (Portugal)
Francisco Curate (Portugal)
Gonçalo Salvado (Portugal)
Graça Magalhães (Portugal)
Graça Pires (Portugal)
Henrique Manuel Bento Fialho (Portugal)
Hugo Milhanas Machado (Portugal)
Iacyr Anderson Freitas (Brasil)
Inês Lourenço (Portugal)
Isabel Cristina Pires (Portugal)
Jaime Rocha (Portugal)
Joaquim Cardoso Dias (Portugal)
João Aparício (Timor-Leste)
João Camilo (Portugal)
João Candeias (Portugal)
João Manuel Ribeiro (Portugal)
João Moita (Portugal)
João Rasteiro (Portugal)
João Rios (Portugal)
João Rui de Sousa (Portugal)
João Tala (Angola)
Joaquim Feio (Portugal)
Jorge Arrimar (Angola)
Jorge Reis-Sá (Portugal)
Jorge Velhote (Portugal)
José Agostinho Baptista (Portugal)
José Carlos Barros (Portugal)
José do Carmo Francisco (Portugal)
José Luís Mendonça (Angola)
José Luís Peixoto (Portugal)
José Manuel Vasconcelos (Portugal)
José Mário Silva (Portugal)
José Miguel Silva (Portugal)
José Tolentino de Mendonça (Portugal)
Júlio Polidoro (Brasil)
Levi Condinho (Portugal)
Luís Amorim de Sousa (Brasil)
Luís Filipe Cristóvão (Portugal)
Luís Quintais (Portugal)
Luís Soares Barbosa (Portugal)
Manuel A. Domingos (Portugal)
Margarida Vale de Gato (Portugal)
Maria Andersen (Portugal)
Maria Estela Guedes (Portugal)
Maria João Reynaud (Portugal)
Maria Teresa Horta (Portugal)
Miguel-Manso (Portugal)
Miguel Martins (Portugal)
Myriam Jubilot de Carvalho (Portugal)
Nicolau Saião (Portugal)
Nuno Dempster (Portugal)
Nuno Júdice (Portugal)
Nuno Rebocho (Portugal)
Ondjaki (Angola)
Ozias Filho (Brasil)
Patrícia Tenório (Brasil)
Paula Cristina Costa (Portugal)
Paulo Ramalho (Portugal)
Paulo Tavares (Portugal)
Prisca Agustoni (Brasil)
Risoleta Pinto Pedro (Portugal
Roberval Alves Pereira (Brasil)
Rosa Alice Branco (Portugal)
Rui Almeida (Portugal)
Rui Caeiro (Portugal)
Rui Cóias (Portugal)
Rui Costa (Portugal)
Ruy Ventura (Portugal)
Sara Canelhas (Portugal)
Soledade Santos (Portugal)
Teresa Tudela (Portugal)
Torquato da Luz (Portugal)
Urbano Bettencourt (Portugal)
Vasco Graça Moura (Portugal)
Vera Lúcia de Oliveira (Brasil)
Vergílio Alberto Vieira (Portugal)
Victor Oliveira Mateus (Portugal)
Virgílio de Lemos (Moçambique)
Vítor Nogueira (Portugal)
Vítor Oliveira Jorge (Portugal)
Yvette K. Centeno (Portugal)
Zetho Cunha Gonçalves (Angola)

Eis "Matilda", o meu mui humilde contributo, com um agradecimento especial a Amadeu Baptista e Rui Almeida:
* Matilda *

Tam-tam!
Oboés, flautas e violinos.
Maviosa, uma escultura de bronze
pedida por Claudel a violoncelos e clarinetes
que murmurassem "Matilda".
Ela apareceu em três tempos,
valsando lenta, suada entre dedos
no Adeus de Kundera,
que em cinco letras
a agarrou pela cintura
como valsador heterodoxo,
mas nem por isso inconveniente.
Vibrafónico, Ravel é então atiçado
pelos seios aprisionados da australiana.
Ternário, num pizzicato errático,
deita os olhos sobre os dois
- Matilda e Kundera -,
num redemoinho de girassóis
que cintilava ao som do glockenspiel.
Os pares enlaçados já não se distinguiam
numa multidão de nébulas bailantes
e pretendentes sedentos e solitários
junto ao Danúbio de lustres e candelabros,
nunca narrado na cantiga do trabalhador itinerante
que bebia chá e roubava ovelhas para comer.
Em três tempos, três polícias foram prendê-lo.
"Vocês nunca me apanharão vivo", disse,
sem a joie de vivre de outras valsas carentes,
de mão atrás e outra à frente.
Afogou-se num regato e Matilda não sei quem seja.

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quinta-feira, janeiro 07, 2010

Chegaram hoje os livros com o meu primeiro poema em brasilês

A informação de que os 10 exemplares do livro publicado no Brasil contendo um poema de minha autoria ("Crônica de João Castanho", com acento circunflexo) chegaram quase ilesos a Lisboa interessa particularmente aos cinco vencedores do concurso AQUI promovido pelo Caderno de Corda. Assim sendo, caso tal não se proporcione antes, a entrega dos prémios será realizada no próximo dia 27 de Março, data de aniversário deste blogue, que tem sido pontuada anualmente desde 2005 por um jantar já tradicional na churrasqueira "A Valenciana".

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sábado, agosto 08, 2009

Primeiro poema publicado no Brasil

No dia 14 de Maio passado eu anunciava aqui duas surpresas: a publicação de dois poemas inéditos em duas obras distintas. Um dos poemas apenas será dado à estampa no início de 2010, incluído numa antologia poética sobre a Música, organizada pelo poeta Amadeu Baptista para o Conservatório de Música de Viseu. O outro já foi publicado no mês passado e está inclusivamente disponível para venda ao público, mas apenas no Brasil, por ocasião do 9.º Concurso de Poesia da Universidade Federal de São João del-Rei, no estado de Minas Gerais.
Acima encontra-se a capa do livro, do qual me serão enviados dez exemplares. E é aqui que entra o estimado leitor. Ofereço cinco exemplares às cinco primeiras pessoas que acertarem no poema escolhido. Perante o aparente abandono do Caderno de Corda, e tendo em conta que o Verão é inimigo dos blogues, tenho dúvidas que alguém sequer participe. Pode ser que sim. Uma dica: o poema conta a estória de um jovem rapaz. Em breve há novidades de outra índole...
n.b. - A moderação de comentários foi excepcionalmente activada para evitar que as respostas sejam viciadas por comentários acertados.

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quinta-feira, maio 14, 2009

Planetas alinhados

(como iniciar este post?...)

Hoje, num só dia, recebi por email duas notícias inesquecíveis e raras. A primeira, chegada esta manhã, é a de que, depois de contactado ontem à noite pelo poeta Amadeu Baptista, verei incluído um poema inédito de minha autoria numa Antologia poética sob a temática "Música", organizada por Amadeu. Confirma-se, em primeira mão, que esta Antologia será dada à estampa nos primeiros meses de 2010, sob os auspícios do Conservatório de Música de Viseu.
A segunda notícia, recebida esta tarde, mas de igual modo surpreendente, é a de que verei também publicado em livro outro poema inédito, desta feita no Brasil, por ocasião do 9.º Concurso de Poesia da Universidade Federal de São João del-Rei, no estado de Minas Gerais. No comunicado de congratulações que recebi, estava implícito o convite para comparecer no cocktail de "Premiação e Lançamento" do livro, que integrará a programação do 22.º Inverno Cultural da UFSJ, previsto para o período de 11 a 19 de Julho de 2009. É óbvio que a viagem transatlântica não está incluída, mas, não deixando créditos por mãos alheias, já fiz seguir um email de réplica sedento por mais detalhes. Oportunamente, voltarei a fazer eco no Caderno de Corda destes verdadeiros happenings.

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quarta-feira, maio 14, 2008

"Pôr a Escrita em Noite" começa finalmente a ser distribuído País fora

Até ao fim desta semana o livro de poesia "Pôr a Escrita em Noite", deste vosso humilde escriba, já se encontrará distribuído nas seguintes livrarias:
  • X-Acto (Penafiel);
  • Vício das Letras (Santa Maria da Feira);
  • Livraria Orpheu (Guimarães);
  • Braga Books (Braga);
  • Livraria Bracara (Braga)
Mais livrarias estarão abrangidas dentro em breve, nomeadamente em Lisboa. A informação será imediatamente publicada no Caderno de Corda. Estejam atentos.

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segunda-feira, março 17, 2008

29 de Março, 18 horas - Apresentação do primeiro livro de poesia deste vosso humilde escriba, na Fábrica Braço de Prata

Estimado(a) Leitor(a),

No dia 29 de Março (sábado), pelas 18 horas, decorrerá, na Fábrica Braço de Prata, a apresentação do meu primeiro livro de poesia - 'Pôr a Escrita em Noite'. Esta era a grande novidade que vinha guardando de há umas semanas para cá. O momento é, obviamente, de grande importância para mim, pelo que não dispenso a presença dos amigos e da família.
Com início às 18 horas na sala Nietzsche da Fábrica Braço de Prata, o lançamento contará com a presença do declamador João Saramago e da pianista Rita Medina. Sob a chancela da Corpos Editora, o livro terá um preço de venda ao público de 16 euros. Fico duplamente agradecido aos estimados leitores que divulguem o convite publicado à cabeça deste post, contendo todos os detalhes. Sugiro que o imprimam, uma vez que inclui um pequeno mapa da zona onde se realizará o evento.
Fábrica Braço de Prata
Rua da Fábrica de Material de Guerra, n.º 1
(diante dos correios do Poço do Bispo)

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terça-feira, setembro 04, 2007

Bastidores (Bernardo Cunha Simões, 1920-1963?)

Quando o grito se aquieta
E a revolta se suprime,
Agarra a foice firme,
Separa o joio velho
do trigo mais sublime.
Quando em silêncio aceitas
O cartola que te verga,
Vê lá se lhe acertas
Onde ele não mais se erga.
Se te esgrimes com verdades,
Grunhe fino o bacorinho;
Há-de dar-te as liberdades
Que só terias sozinho.
Bebe o trago do gargalo,
Sôfrego engasgo no vinho;
Vive livre e com embalo;
Segue feliz o caminho.
Comensal, eu não me ralo
Se passas fome de carinho,
Mas não esqueças que o galo
Desperta o pobre e maça o rico.
A turba emerge silenciosa e esguia
Todas as manhãs com o raiar do dia.
Somos peças de xadrez,
Peões fracos, meros actores
Que acabam por, à vez,
Engolir sapos; esquecer valores.
Mais dia menos dia levantam-se os mortos
Pelas nossas dores,
E actores que somos, absortos,
Deixamos vagos os bastidores
Da vida morta que levamos,
De poemas sem cantores,
Da trova brava que levantava clamores.


Bernardo Cunha Simões (Biografia)

Bernardo Cunha Simões escreveu, ao longo da vida, um vasto rol de poemas sobre a sua experiência no Alentejo e na Covilhã, onde nasceu a 21 de Maio de 1920. Bernardo iniciou-se literariamente com um conjunto de escritos sobre os anos passados no Liceu da Covilhã, onde estudou até ingressar no curso de Medicina na Universidade de Coimbra, anos mais tarde. Em Coimbra, foi colega e camarada de outro Bernardo, o Santareno (pseudónimo de António Martinho do Rosário), cuja obra inédita “O Punho”, localizada no quadro revolucionário da Reforma Agrária, em terras alentejanas, terá sido inspirada pelas conversas tardias entre ambos e pelo conhecimento partilhado de Bernardo Cunha Simões sobre o Alentejo, onde amiúde se refugiava, procurando a paz e o sossego que teimavam não abundar.
No início dos anos 40, Bernardo Cunha Simões já apresentava um conjunto vasto de textos políticos, memoriais, de debate social e até esotéricos. No entanto, nenhum fora publicado senão em documentos académicos dos quais se perdeu rasto.
Porque tinha uma avó acamada na Covilhã, padecendo de pneumonia, abandonou o curso para assisti-la, não tendo voltado para concluir o seu percurso académico. Em 1942, após o falecimento da avó nos seus braços, procurou novas experiências e lugares, tendo encontrado no Alentejo a serenidade que buscava.
Foi em Évora que Cunha Simões conheceu, na década de 50, o poeta alentejano autodidacta Jeremias Cabrita da Silva, com quem privou e passou temporadas de boémia em Cuba do Alentejo, fugido da repressão crescente de que ia sendo alvo pela parte do regime vigente. Considerado pela PIDE/DGS um “comunista indefectível” e líder encapotado de movimentos estudantis, foi desde cedo perseguido pela polícia política, para quem representava uma séria ameaça enquanto fazedor de opinião no seio académico, mesmo após o abandono de Coimbra. Escreveu para diversos fins panfletários e revolucionários, muito antes de se sonhar com o 25 de Abril. Fê-lo, no entanto, sob pseudónimos vários, pelo que é hoje quase impossível atribuir-lhe com precisão a grande parte dos textos políticos que publicou clandestinamente.
“Procurou desde criança perceber o porquê das desigualdades entre os homens”, afirmou ao Caderno de Corda o amigo Jeremias Cabrita da Silva, fiel depositário da obra poética do autor - toda ela inexplicavelmente inédita até hoje, apesar das diligências levadas a cabo por Jeremias junto de editores vários do Sul do País.
Em 1963, sob disfarce – óculos, barba e roupas que o aparentavam mais velho -, Bernardo Cunha Simões estava de regresso à sua cidade natal, depois de exilado em Paris por um ano. Percorria o emaranhado de ruelas da zona histórica da Covilhã quando foi abordado por um agente da GNR que o viu acender um cigarro com um isqueiro. Na ausência de licença de porte de isqueiro, Bernardo Cunha Simões foi descoberto e levado, algemado e pontapeado, pelo caminho da Rua Direita até à esquadra, donde nunca mais se soube do seu paradeiro ou estado de saúde. O desaparecimento foi notado, mas a preocupação de amigos e familiares mantida sigilosa, precavendo represálias. Estava travada a luta clandestina do autor, cuja obra nunca conheceu letra de forma.
O poema que hoje aqui se publica, gentilmente cedido por Jeremias Cabrita da Silva, é o primeiro texto alguma vez tornado público de Bernardo Cunha Simões. Segundo consta, foi escrito em Cuba do Alentejo, no alpendre da casa de Jeremias Cabrita da Silva.
Ontem, durante uma longa conversa telefónica com o octogenário Jeremias – que lhe permitiu ditar-me este poema -, soube da sua disponibilidade para divulgar no Caderno de Corda a obra do amigo Bernardo, facto que mais uma vez muito honra e enriquece este blogue.
Ao Gonçalo Cunha e descendência

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quarta-feira, março 21, 2007

Dia Mundial da Poesia na Casa Fernando Pessoa

Imagem (estante de Pessoa, himself) retirada do blogue Mundo Pessoa
Há exactamente um ano atrás, eu escrevia o poema "Poesia do Dia no Dia da Poesia", para assinalar precisamente o Dia Mundial da Poesia, que se celebra hoje, mais uma vez. Por vicissitudes várias, não prestarei hoje novo e original tributo de estro poético, mas devo fazer notar a iniciativa levada a cabo pela Casa Fernando Pessoa.
Estendo assim o convite aos estimados leitores, que podem e devem visitar hoje a Casa Fernando Pessoa, onde, a partir das 10 horas, decorrerá uma Feira do Livro de Poesia, com descontos excepcionais. Das 18h30 até às 21h00, haverá música no auditório e no jardim com os Wishful Thinking (jazz).
Às 21h30, poetas lêem poetas (Maria do Rosário Pedreira, Pedro Mexia, José Luís Tavares, Pedro Sena-Lino, Eduardo Pitta, Fernando Pinto do Amaral e Ana Marques Gastão). Depois, teremos "Um Redondo Vocábulo" por João Afonso e João Lucas – música e poesia de José Afonso. Pela noite fora haverá música e poesia, sendo que todos os pisos da Casa Fernando Pessoa estão abertos ao público, incluindo a Biblioteca (entrada livre limitada ao espaço existente).
No final, estará patente a exposição de fotografia de Jordi Burch e haverá uma ceia tardia, para acomodar o estômago mais ou menos vazio, apesar da alma cheia.

"Todas as coisas têm o seu mistério, e a poesia é o mistério de todas as coisas"

in "Conversa Sobre o Teatro", de Federico Lorca

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terça-feira, março 06, 2007

Sai hoje o décimo do professor Carmelo

Hoje, às 18h30, no restaurante (último piso) do El Corte Inglés de Lisboa, estarei no lançamento do décimo romance do professor Luís Carmelo, “E Deus Pegou-me Pela Cintura” (Guerra & Paz). A apresentação será responsabilidade do ilustre Francisco José Viegas.
Serão também projectadas quatro curtas destinadas ao You Tube, tendo como base outros tantos excertos do romance (realização de Teresa Maia Carmo; ver restante ficha técnica aqui). Segundo consta, há quem diga que se trata da "primeira tradução - ainda que parcial - de um romance (no sentido canónico do termo) à novíssima lógica do You Tube".
No seu Miniscente, Luís refere: “Vai ser um prazer receber-vos neste dia, para mim obviamente simbólico e marcante. Dez... sempre são dez!”
Daqui endereço um forte abraço a um professor e escritor brilhante com quem tive o prazer e o privilégio de aprender alguma coisa.

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domingo, abril 02, 2006

2+2=5 [The Lukewarm] - Radiohead

Are you such a dreamer?
To put the world to rights?
I'll stay home forever
Where two & two always makes up five 

I'll lay down the tracks 
Sandbag & hide 
January has April's showers 
And two & two always makes up five 

It's the devil's way now 
There is no way out 
You can scream & you can shout 
It is too late now 

Because you have not been paying attention 

I try to sing along 
I get it all wrong 
'Cause I’m not (2x) 
I swat 'em like flies 
but like flies the buggers 
keep coming back 
and NOT 
But I’m not 
"All hail to the thief" (2x) 
"But I am not!" (4x) 
"Don't question my authority or put me in the docks" 
Cozimnot! 
Go & tell the king 
That the sky is falling in 
When it's not 
But it´s not (2x) 
Maybe not (2x) 

Tempo: 3:19 
Editora: Parlophone 


"2+2=5" é o título do tema de abertura do álbum “Hail to the Thief”, sexto dos Radiohead, lançado em 2003. Não se esqueçam desta informação. Será retomada adiante. Já é dia 2 de Abril. Podemos procurar dizer pequenas verdades… Este é, em essência, problema da Verdade e da mentira. 

2+2=5 em 1984

A frase «dois mais dois perfazem cinco» é por vezes proferida como sucinta e vívida representação de uma afirmação ideológica, especialmente se criada com o propósito de manter e servir uma “agenda” doutrinada. O uso comum da expressão terá, porventura, sido popularizado por George Orwell na obra 1984 (Parte III, Capítulo II), quando contrastada com a proposição verdadeira e matemática da frase «dois mais dois igual a quatro». O protagonista de Orwell, Winston Smith, questionando-se sobre a possibilidade de o Estado declarar que dois mais dois perfazem cinco, e de que, se todos puderem crer em algo semelhante, o facto torna-se real, repensa a frase vezes sem conta. No início do livro, Winston escreve no diário comprado clandestinamente ao velho Charrington, a um canto da casa, fora do alcance visual perscrutante da teletela: «Liberdade é a liberdade de dizer que dois mais dois perfazem quatro. Se tal estiver garantido, tudo o resto se segue.» Mais tarde, Winston serve-se novamente do mecanismo de duplipensar tentando convencer-se de que a afirmação é verdadeira. Orwell já escrevia sobre o conceito “2+2=5” antes da publicação de 1984, cujo parto, como se sabe, se deu durante o ano de 1948, donde se extraiu o título, por inversão dos dois últimos números. Durante o período em que trabalhou na BBC, familiarizou-se com os métodos da propaganda nazi. Num ensaio sobre a Guerra Civil Espanhola, publicado quatro anos antes dos trabalhos de “1984”, Orwell escreveu: «A teoria nazi nega especificamente que tal coisa como “a Verdade” exista. […] O objectivo implícito desta linha de pensamento é um mundo de pesadelo no qual o líder controla não apenas o futuro, mas o passado. Se o líder disser que este ou aquele acontecimento nunca aconteceu, então não aconteceu. Se ele disser que dois e dois são cinco – bem, dois e dois são cinco. Esta perspectiva assusta-me muito mais do que bombas […]»

Segundo a quase totalidade dos biógrafos de Orwell, a provável origem da ideia reside no livro “Assignment in Utopia”, escrito pelo jornalista e historiador Eugene Lyons, reportando-se a quando esteve na União Soviética. Num dos capítulos, titulado “2+2=5”, a expressão é explicada, ganhando paralelos históricos, factuais, tão reais quantas as possibilidades que 1984 viria a levantar - “2+2=5” fora um slogan usado pelo governo de Estaline, prevendo que o plano de cinco anos para o desenvolvimento da economia russa estaria completado em quatro anos. No entanto, Orwell pode também ter sido influenciado pelo Reichsmarschall nazi Hermann Göring, que, certa vez, numa hiperbólica demonstração de lealdade a Hitler, declarou:

«Se o Führer quiser, dois e dois são cinco!»

2+2=5 segundo Dostoievsky, Victor Hugo e a cultura pop

Nas “Notas do Subterrâneo” de Fyodor Dostoievsky, o protagonista apoia implicitamente a ideia de que dois e dois são cinco em sucessivos parágrafos onde se consideram as implicações de rejeitar a afirmação «dois mais dois são quatro». Dostoievsky escrevia em 1864. No entanto, de acordo com Roderick T. Long, Victor Hugo fez também sua a frase, em 1852, objectando a forma como uma vasta maioria de votantes franceses apoiou Napoleão III, dando cobro ao modo como os valores e as causas liberais haviam sido até então ignorados pelo líder. Victor Hugo disse: «Agora, ponham sete milhões e 500 mil votantes a dizer que dois e dois perfazem cinco; que a linha recta é a estrada mais longa; que o todo é inferior à soma das partes. Façam-no ser declarado por oito milhões, dez milhões, cem milhões de votos, que não terão avançado um único passo.» O conceito foi ainda explorado num episódio de Star Trek: The Next Generation, "Chain of Command," no qual Picard é torturado por um Cardassiano. A reminiscência de 1984 é clara à luz de uma cena onde O'Brien, o torturador de Winston Smith, levanta quatro dedos e lhe inflige descargas eléctricas dizendo que são cinco os dedos que levanta.

- Quatro! Cinco! Seis! Eu não sei!

Radiohead e Orwell

"The Lukewarm" é o título alternativo da música “2+2=5”, dos Radiohead, cuja letra se encontra à cabeça do post. Todas as músicas do álbum “Hail to the Thief” têm dois títulos – um deles apelidado “alternativo”. Toda a canção (último single do álbum) contém múltiplas referências ao livro Nineteen Eighty-Four (1984), de George Orwell. No título (2+2=5), a referência à problemática psicológica que o protagonista, Winston, enfrenta; no subtítulo, a alusão à condição manietada, quebrantada, em que Winston é simplesmente deixado ir, no final do livro, e a frase “Question my authority or put me in the docks”, que se refere ao tribunal conhecido como “the docks” no enredo… O termo “hail to the thief” surge como trocadilho para a expressão comum “hail to the chief”. O título do álbum também provém desta canção. É uma possível referência a George Bush, por este ter “roubado” as eleições norte-americanas em 2000. A evidência já foi negada pela banda. Camadas sonoras boreais, tempestuosas ou literárias sobrepostas, as atmosferas musicais complexas criadas pelos Radiohead fazem, quando depuradas aturadas e sucessivas audições, parecer que a aparente desarrumação, ruído, nota, pausa, têm um motivo racional, ainda que sempre emotivo. Um dos mais incríveis (porque talvez seja este o melhor adjectivo) álbuns da banda de Thom Yorke foi, sem dúvida, "OK Computer". Pode dizer-se com alguma segurança que “OK Computer” e “1984” estarão também correlacionados, além das afecções da alma; da angústia, depressão, inquietude perante o mundo. Yorke alude propositadamente a "1984" já em “OK Computer”. Em "Hail to the Thief" volta a citar, como já vimos, o duplipensar na faixa de abertura: "2+2=5". Para fãs dos Radiohead, um pequeno brinde: seguem-se algumas curiosidades acerca do tema “2+2=5”. Ouçam-no e confiram:

  • O primeiro som do álbum é o ruído resultante do guitarrista Jonny Greenwood a colocar o jack na guitarra. Foi o primeiro som a ser registado quando os Radiohead foram para estúdio gravar “Hail to the Thief”. Se escutarem com muita atenção, Thom Yorke diz, ao fundo, «That's a nice way to start, Jonny...»
  • A primeira parte da canção bate a 7/4, e muda para 4/4 a cerca de um minuto e 23 segundos corridos, logo após as palavras "Two and two always makes five..."
  • Exactamente ao bater dos 2 minutos e 25 segundos (2:25), o ritmo, a dinâmica e o registo da música transformam-se radicalmente, e assim permanecerão até ao final da faixa.

Se bem que, quando contemplados arredondamentos de números decimais, 2+2 pode, de facto, resultar em 5 (2.4+2.4=4.8, ou seja, 5), os números 4 e 5 encontram-se também no limite relativo ao número de objectos que a maioria das pessoas consegue identificar com um simples olhar fugaz. É improvável que alguém veja quatro objectos em três reais - mas confundir quatro por cinco, ou vice-versa, é possível.

Ironicamente, cerca de um mês antes do lançamento de “Hail to the Thief”, foi roubada uma cópia do álbum do estúdio de gravação, que pouco mais tarde redundou na Internet.


You have not been

paying attention


“Quanto maior for a mentira, mais pessoas acreditarão nela”

Adolf Hitler

n.b. - Este post não teria sido possível sem o auxílio da Wikipedia. Retomarei a questão essencial da Verdade em breve.

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quinta-feira, março 16, 2006

A Mais Vil de Todas as Necessidades (Fernando Pessoa)

A mais vil de todas as necessidades - a da confidência, a da confissão. É a necessidade da alma de ser exterior. Confessa, sim; mas confessa o que não sentes. Livra a tua alma, sim, do peso dos teus segredos, dizendo-os; mas ainda bem que os segredos que digas, nunca os tenhas tido. Mente a ti próprio antes de dizeres essa verdade. Exprimir é sempre errar. Sê consciente: exprimir seja, para ti, mentir.

Fernando Pessoa, in "Livro do Desassossego"

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quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Álvaro de Campos. Pormenor do mural de Almada Negreiros na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1958)
Engenheiro naval «franzino e civilizado», o mais fecundo e versátil heterónimo de Fernando Pessoa é também o mais nervoso e emotivo, que por vezes vai até à histeria. Com algumas composições iniciais que algo devem ao Decadentismo, Álvaro de Campos é, sobretudo, o futurista da exaltação da energia, da velocidade e da força da civilização mecânica do futuro, patentes na "Ode Triunfal". É o sensacionalista que pretende «sentir tudo de todas as maneiras», ultrapassar a fragmentaridade numa «histeria de sensações».

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Pequeno excerto de "Tabacaria" (Álvaro de Campos - Fernando Pessoa)

(...)

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência,
Por ser inofensivo,
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

(...)

Álvaro de Campos, 15-1-1928

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sábado, janeiro 14, 2006

Nota Autoral 2 - "Photopoiesis" e "Cartas de Amor Ridículas"

Iniciei, na passada quarta-feira, nova empreitada poética: a série composta em tempo real "Photopoiesis" - poemas súbitos e instantâneos, em pleno desenvolvimento, com base inspiracional numa fotografia ou imagem. Hoje, introduzirei a novel série "Cartas de Amor Ridículas", também na forma poética, assinalando a óbvia influência de um poema de Fernando Pessoa (sob o heterónimo Álvaro de Campos) no tocante à titulação do compêndio amorável. Não poderia deixar de encetar ambas as séries poéticas sem uma palavra. Seguem-se, portanto, algumas mais - e apropriadas - do egrégio e sublime revérbero parcial de Fernando Pessoa, Álvaro de Campos:
Todas as cartas de amor são ridículas

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos, 21 de Outubro de 1935

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domingo, dezembro 18, 2005

Luís Vaz de Camões (nascido em lugar incerto, provavelmente Lisboa, em 1524 ou 1525, faleceu em Lisboa, a 10 de Junho de 1580)

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sexta-feira, dezembro 02, 2005

Fernando Pessoa (1988-1935)

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