domingo, setembro 29, 2013

'PFP - Um hino autárquico natimorto'

Fiz, há uma série de meses, um redux (permitam-me a expressão) de um velho "tema eleitoral" para um candidato à presidência de uma câmara nestas eleições, mas o "projecto" não chegou a "maquete", ainda que a ideia se tenha desenvolvido a pedido do candidato... O tema é 'P'rá Frente Portugal', que Diogo Freitas do Amaral e Nicolau Breyner trautearam "contra" Mário Soares nas épicas eleições presidenciais de 1986. A publicá-lo, sem voz (que nunca chegou a ser gravada), era hoje, dia de eleições, ou nunca. Ora aí vai 'PFP - Um hino autárquico natimorto'.

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quarta-feira, abril 25, 2012

25 de Abril - Um Olhar Para a Memória, 30 anos depois



"A revolução, se quiser resistir, deve permanecer revolução. Se se transforma em governo, já está falida... Os lugares que deixaram de ter uma revolução permanente recuperaram a tirania."

in "Aprire il Fuoco", L. Bianciardi (1922-1971)

Oito anos depois chega à Web o documentário fotográfico em filme que realizei em 2004 a propósito do trigésimo aniversário do 25 de Abril de 1974, quando pensava ter perdido definitivamente o seu registo, produzido no âmbito dos trabalhos da cadeira de Fotojornalismo, curso de Comunicação Social da Universidade Autónoma de Lisboa (UAL), leccionada por Luiz Carvalho.
Reencontrei uma cópia do original há dias, durante arrumações, e finalmente pude salvar a empreitada a que me dei, contando com a dádiva genial e incansável do excelente fotógrafo e jornalista Tiago Valente, meu prezado amigo cujo rasto perdi há uma mão cheia de anos, no seu regresso de Roma. É de elementar justiça referir que o Tiago fez a maior parte das fotos que posteriormente seleccionei para a composição narrativa.
Sem pregar olho nessa noite, eu e o Tiago encontrámo-nos para fotografar, 30 anos depois, in loco, desde a alta madrugada, o ponto de chegada de Salgueiro Maia a Lisboa, à hora exacta, até final do dia, calcorreados entretanto os caminhos e os palcos fulcrais, replicados, de um golpe de Estado absorvido, como que por osmose, por uma revolução dos cravos nascida da natureza da participação popular verificada. O trabalho foi misturado nos estúdios da UAL por Ricardo Sant'Ana e Hugo Simões a contra-relógio, com Carlos Paredes como pano de fundo. Adverte-se que, num olhar prismático, o 25 de Abril de 2004 pode eventualmente parecer tão ou mais longínquo do que o outro, de 74.
Mais uma vez, concluo levando de empréstimo uma frase de Zeca Afonso e, por fim, um poema do Grande Mestre Jorge de Sena. "Para se ser cidadão era necessário mais alguma coisa do que meter um voto numa urna."


"NÃO, NÃO, NÃO SUBSCREVO,..."

(JORGE DE SENA)

Não, não, não subscrevo, não assino
que a pouco e pouco tudo volte ao de antes,
como se golpes, contra-golpes, intentonas
(ou inventonas - armadilhas postas
da esquerda prá direita ou desta para aquela)
não fossem mais que preparar caminho
a parlamentos e governos que
irão secretamente pôr ramos de cravos
e não de rosas fatimosas mas de cravos
na tumba do profeta em Santa Comba,
enquanto pra salvar-se a inconomia
os empresários (ai que lindo termo,
com tudo o que de teatro nele soa)
irão voltar testas de ferro do
capitalismo que se usou de Portugal
para mão-de-obra barata dentro ou fora.
Tiveram todos culpa no chegar-se a isto:
infantilmente doentes de esquerdismo
e como sempre lendo nas cartilhas
que escritas fedem doutras realidades,
incompetentes competiram em
forçar revoluções, tomar poderes e tudo
numa ânsia de cadeiras, microfones,
a terra do vizinho, a casa dos ausentes,
e em moer do povo a paciência e os olhos
num exibir-se de redondas mesas
em televisas barbas de falácia imensa.
E todos eram povo e em nome del' falavam,
ou escreviam intragáveis prosas
em que o calão barato e as ideias caras
se misturavam sem clareza alguma
(no fim das contas estilo Estado Novo
apenas traduzido num calão de insulto
ao gosto e à inteligência dos ouvintes-povo).
Prendeu-se gente a todos os pretextos,
conforme o vento, a raiva ou a denúncia,
ou simplesmente (ó manes de outro tempo)
o abocanhar patriótico dos tachos.
Paralisou-se a vida do país no engano
de que os trabalhadores não devem trabalhar
senão em agitar-se em demandar salários
a que tinham direito mas sem que
houvesse produção com que pagá-los.
Até que um dia, à beira de uma guerra
civil (palavra cómica pois que do lume os militares seriam quem tirava
para os civis a castanhinha assada),
tudo sumiu num aborto caricato
em que quase sem sangue ou risco de infecção
parteiras clandestinas apararam
no balde da cozinha um feto inexistente:
traindo-se uns aos outros ninguém tinha
(ó machos da porrada e do cacete)
realmente posto o membro na barriga
da pátria em perna aberta e lá deixado
semente que pegasse (o tempo todo
haviam-se exibido eufóricos de nus,
às Africas e às Europas de Oeste e Leste).
A isto se chegou. Foi criminoso?
Nem sequer isso, ou mais do que isso um guião
do filme que as direitas desejavam,
em que como num jogo de xadrez a esquerda
iria dando passo a passo as peças todas.
É tarde e não adianta que se diga ainda
(como antes já se disse) que o povo resistiu
a ser iluminado, esclarecido, e feito
a enfiar contente a roupa já talhada.
Se muita gente reagiu violenta
(com as direitas assoprando as brasas)
é porque as lutas intestinas (termo
extremamente adequado ao caso)
dos esquerdismos competindo o permitiram.
Também não vale a pena que se lave
a roupa suja em público: já houve
suficiente lavar que todavia
(curioso ponto) nunca mostrou inteira
quanta camisa à Salazar ou cueca de Caetano
usada foi por tanto entusiasta,
devotamente adepto de continuar ao sol
(há conversões honestas, sim, ai quantos santos
não foram antes grandes pecadores).
E que fazer agora? Choro e lágrimas?
Meter avestruzmente a cabeça na areia?
Pactuar na supremíssima conversa
de conciliar a casa lusitana,
com todos aos beijinhos e aos abraços?
Ir ao jantar de gala em que o Caetano,
o Spínola, o Vasco, o Otelo e os outros,
hão-de tocar seus copos de champanhe?
Ir já fazendo a mala para exílios?
Ou preparar uma bagagem mínima
para voltar a ser-se clandestino usando
a técnica do mártir (tão trágica porque
permite a demissão de agir-se à luz do mundo,
e de intervir directamente em tudo)?
Mas como é clandestina tanta gente
que toda a gente sabe quem já seja?
Só há uma saída: a confissão
(honesta ou calculada) de que erraram todos,
e o esforço de mostrar ao povo (que
mais assustaram que educaram sempre)
quão tudo perde se vos perde a vós.
Revolução havia que fazer.
Conquistas há que não pode deixar-se
que se dissolvam no ar tecnocrata do oportunismo à espreita de eleições.
Pode bem ser que a esquerda ainda as ganhe,
ou pode ser que as perca. Em qualquer caso,
que ao povo seja dito de uma vez
como nas suas mãos o seu destino está
e não no das sereias bem cantantes
(desde a mais alta antiguidade é conhecido
que essas senhoras são reaccionárias,
com profissão de atrair ao naufrágio o navegante intrépido).
Que a esquerda nem grite, que está rouca, nem invente
as serenatas para que não tem jeito.
Mas firme avance, e reate os laços rotos
entre ela mesma e o povo (que não é
aqueles milhares de fiéis que se transportam
de camioneta de um lugar pró outro).
Democracia é isso: uma arte do diálogo
mesmo entre surdos. Socialismo à força
em que a democracia se realiza.
Há muito socialismo: a gente sabe,
e quem mais goste de uns que dos outros.
É tarde já para tratar do caso: agora
importa uma só coisa - defender
uma revolução que ainda não houve,
como as conquistas que chegou a haver
(mas ajustando-as francamente à lei
de uma equidade justa, rechaçando
o quanto de loucuras se incitaram
em nome de um poder que ninguém tinha)
E vamos ao que importa: refazer
um Portugal possível em que o povo
realmente mande sem que o só manejem,
e sem que a escravidão volte à socapa
entre a delícia de pagar uma hipoteca
da casa nunca nossa e o prazer
de ter um frigorifico e automóveis dois.
Ah, povo, povo, quanto te enganaram
sonhando os sonhos que desaprenderas!
E quanto te assustaram uns e outros,
com esses sonhos e com o medo deles!
E vós, políticos de ouro de lei ou borra,
guardai no bolso imagens de outras Franças,
ou de Germânias, Rússias, Cubas, outras Chinas,
ou de Estados Unidos que não crêem
que latinada hispânica mereça
mais que caudilhos com contas na Suíça.
Tomai nas vossas mãos o Portugal que tendes
tão dividido entre si mesmo. Adiante.
Com tacto e com firmeza. E com esperança.
E com um perdão que há que pedir ao povo.
E vós, ó militares, para o quartel
(sem que, no entanto, vos deixeis purgar
ao ponto de não serdes o que deveis ser:
garantes de uma ordem democrática
em que a direita não consiga nunca
ditar uma ordem sem democracia).
E tu, canção-mensagem, vai e diz
o que disseste a quem quiser ouvir-te.
E se os puristas da poesia te acusarem
de seres discursiva e não galante
em graças de invenção e de linguagem,
manda-os àquela parte.
Não é tempo para tratar de poéticas agora.


Santa Bárbara, Fevereiro de 1976
(aniversário de uma tentativa heróica de conter uma noite que duraria décadas)
(de Quarenta Anos de Servidão, 1979)

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terça-feira, outubro 18, 2011

O meu 15 de Outubro de 2011 em Lisboa / My 15th of October 2011 in Lisbon

sexta-feira, março 25, 2011

Portugal Agora

Segundo dados de um estudo recente da Eurosondagem, 77% dos portugueses não se revê nos actuais partidos políticos nem acredita na política partidária. 73% de entre estes cépticos considera que a política partidária se move por interesses particulares e não por interesses nacionais, e 80% entende que deveria ser possível a candidatura de independentes nas legislativas.
Nas eleições presidenciais de 2011 a abstenção atingiu o valor recorde de 53,48% e nas legislativas de 2009 chegou aos 40,26%. Em paralelo, Portugal soma cerca de 668 mil desempregados, contando quem não se deslocou aos centros de emprego para inquérito e que, por isso, foi catalogado como inactivo. É este o número que melhor mede as consequências sociais da crise económica e financeira em Portugal.
200 mil dos desempregados têm menos de 34 anos - um terço dos quais licenciados, segundo números oficiais. 1,5 milhão está em situação precária ou intermitente, sem protecção social e em situação de precariedade. 500 euros é o ordenado médio desta geração, independentemente do mérito, da experiência ou das habilitações académicas. Mas a precariedade é transversal a várias gerações. Entre os mais velhos, um processo de desemprego significa ser novo demais para deixar o emprego e velho demais para voltar ao circuito do mercado de trabalho. Contudo, o problema não passa apenas pela falta de emprego, mas pela exploração determinada da força de trabalho; dos trabalhadores.
Cada vez menos os portugueses se revêem no actual modelo político, assente nos partidos e nos políticos de carreira - um modelo caduco com mais de 200 anos, herdado da revolução francesa. A representatividade está em risco e a desesperança no futuro angustia as pessoas tanto ou mais do que as dificuldades quotidianas e tangíveis que hoje atravessam. A contaminação desta falta de fé, juntamente com o desemprego em massa e a precariedade, alimentam mais o medo do que a vontade de lutar.
O sentimento generalizado de que o sistema político vigente está falido ganha consubstanciação entre a população, que não se revê nem nos governantes nem na oposição. O voto perde significado e a classe política apresenta-se muitas vezes desligada da realidade do crescente eleitorado descontente. Nisto, a Segunda República Portuguesa continua a apresentar, em 37 anos, os mesmos intervenientes políticos desde o 25 de Abril de 1974, num País estrangulado numa geração – a melhor preparada de sempre - sem perspectivas de mobilidade social, de ascensão de carreira, de melhoria salarial e sequer de emprego.
A gestão do ensino e da formação são movidos por interesses descontextualizados do mercado de trabalho. Muitas empresas vivem dos estagiários, sem intenção de contratar, e o Estado não dá o exemplo. Uma sociedade que desperdiça a sua geração qualificada em troca de ganhos a curto prazo põe em causa o futuro, mas é neste viciado e difícil contexto que grassa também, entre a dita geração, a indignação e uma nova vaga de intervencionismo político com prioridades opostas - por vezes antagónicas - àquelas que vêm sendo aplicadas. Com uma agenda fracturante quanto às políticas levadas a cabo no passado, constata-se, País fora, uma nova tomada de consciência: já não basta ao povo estar desperto e discutir as soluções que outros formulam para os seus problemas – há que partir da sociedade civil para o combate político, sob a forma de movimentos cívicos organizados local e regionalmente.
É por isso que nós, cidadãos que lutam por um Portugal honesto, justo e mais participativo, percebendo não haver alternativa senão intervir politicamente, da e para a sociedade civil, das e pelas pessoas, e renunciando a interesses outros que não os da população, nos devemos propor jogar o jogo político, ganhá-lo e então mudá-lo. Por dentro.

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quarta-feira, março 09, 2011

Videoclip de "Tecto de Abrir", agora legendado

segunda-feira, março 07, 2011

Videoclip de "Tecto de Abrir"


Este é o meu segundo videoclip e sem dúvida o mais oportuno. A canção "Tecto de Abrir", escrita, gravada e apresentada AQUI, no Caderno de Corda, em Abril de 2008, teve então como mote a contestação a um conjunto de medidas tomadas pelo Governo que conduziram a profundos e inesperados cortes ao anterior Incentivo ao Arrendamento Jovem (IAJ), subitamente transformado em Porta 65.
Como breve beneficiário do IAJ que fui, dei o meu contributo à luta e ofereci a canção ao movimento cívico Porta 65 Fechada, que venceu entretanto muitas batalhas, mas não a guerra. "Tecto de Abrir" foi, pois, uma canção de protesto e de crítica declarada à política do Governo, que não hesitou pôr em causa um dos pilares do Estado-providência no seu âmago - o direito à habitação -, mais uma vez pervertendo e entorpecendo toda a lógica de apoio à emancipação dos jovens. AQUI pode ler-se o texto que, no blogue do movimento, apresenta "Tecto de Abrir" como a sua canção de protesto - uma canção que ressoou então pelas ruas de Lisboa e Porto em manifestações do Porta 65 Fechada, como ESTA, e que permanece disponível para audição no blogue do movimento.
Devo acrescentar que o videoclip de "Tecto de Abrir", que aqui se estreia, foi realizado por mim em software gratuito com recurso a imagens ilicitamente obtidas do YouTube. Compus e gravei integralmente a música em casa (música, letra, baixo, guitarras, vozes, gravação, produção e masterização) num modesto fourtrack digital de quatro pistas, como, aliás, melhor se pode ler no post de lançamento da canção.
Muito obrigado a todos os que, pelo seu trabalho, nomeadamente jornalistas, editores de imagem, operadores de câmara, entre outros, muitos deles da esfera do audiovisual, tornaram o videoclip de "Tecto de Abrir" possível. Hoje declaro oferecido este vídeo ao manifesto e dado o corpo à manifestação. Abrir asas e voar. Ejectar.

n. b. - Porque a audição da música é prejudicada pela má qualidade do som pós-upload no YouTube, segue abaixo um player que remete para a mesma, com melhor qualidade de audição, embora num MP3 fraco, é certo. Mas quem quiser pode, sem procurar muito, fazer o download desta e doutras canções.



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domingo, outubro 11, 2009

É oficial: Paulo Freitas do Amaral toma, por 16 votos, a junta de freguesia da Cruz Quebrada e Dafundo

A vitória suada sobre os poderes instalados da IOMÁFIA em Oeiras é sublinhada pela entrada em cena de um jovem valor político que faz da perseverança e da capacidade de mobilização civil as suas maiores armas. O candidato estreante Paulo Freitas do Amaral, 31 anos, filho da freguesia, deu ao PS um resultado inesperado em terreno difícil. Veni, Vidi, Vici.

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sábado, abril 25, 2009

:R.

Ainda não é desta que assinalo o dia do golpe de Esta... er... quero dizer... Revolução com a publicação de um documentário fotográfico em filme que realizei em 2004, pelo trigésimo aniversário do 25 de Abril de 1974... Pedi há já longo tempo a um amigo para converter o filme em formato adequado, de modo a que eu pudesse fazer o respectivo upload no You Tube, mas o encontro ainda não foi possível, apesar de morarmos tão perto!...
O famigerado filme teve a genial e indispensável contribuição do excelente fotógrafo e jornalista Tiago Valente, meu bom amigo, recentemente regressado de Roma, onde permaneceu nos últimos dois ou três anos.
As três fotografias que aqui publico - não demonstrativas do intenso trabalho fotográfico que eu e o Tiago fizemos desde as 5 horas da manhã até às 20 da noite de há cinco anos - foram recuperadas de um conjunto de CD's dos quais apenas consigo aceder ao breve conteúdo de um...
Em cima, uma das muitas centenas de fotos do Tiago Valente, esta no Largo do Carmo (creio que tirámos, os dois, mais de duas mil); a meio, uma foto minha, no Terreiro do Paço a alvorecer, e, em baixo, eu mesmo, fotografado pelo Tiago, quando disparava a foto do meio.
Termino, levando de empréstimo uma frase de Zeca Afonso lida hoje no Poesia Distribuída na Rua e, por fim, um poema do Grande Mestre Jorge de Sena. "Para se ser cidadão era necessário mais alguma coisa do que meter um voto numa urna."
«NÃO, NÃO, NÃO SUBSCREVO,...»
(JORGE DE SENA)
Não, não, não subscrevo, não assino
que a pouco e pouco tudo volte ao de antes,
como se golpes, contra-golpes, intentonas
(ou inventonas - armadilhas postas
da esquerda prá direita ou desta para aquela)
não fossem mais que preparar caminho
a parlamentos e governos que
irão secretamente pôr ramos de cravos
e não de rosas fatimosas mas de cravos
na tumba do profeta em Santa Comba,
enquanto pra salvar-se a inconomia
os empresários (ai que lindo termo,
com tudo o que de teatro nele soa)
irão voltar testas de ferro do
capitalismo que se usou de Portugal
para mão-de-obra barata dentro ou fora.
Tiveram todos culpa no chegar-se a isto:
infantilmente doentes de esquerdismo
e como sempre lendo nas cartilhas
que escritas fedem doutras realidades,
incompetentes competiram em
forçar revoluções, tomar poderes e tudo
numa ânsia de cadeiras, microfones,
a terra do vizinho, a casa dos ausentes,
e em moer do povo a paciência e os olhos
num exibir-se de redondas mesas
em televisas barbas de falácia imensa.
E todos eram povo e em nome del' falavam,
ou escreviam intragáveis prosas
em que o calão barato e as ideias caras
se misturavam sem clareza alguma
(no fim das contas estilo Estado Novo
apenas traduzido num calão de insulto
ao gosto e à inteligência dos ouvintes-povo).
Prendeu-se gente a todos os pretextos,
conforme o vento, a raiva ou a denúncia,
ou simplesmente (ó manes de outro tempo)
o abocanhar patriótico dos tachos.
Paralisou-se a vida do país no engano
de que os trabalhadores não devem trabalhar
senão em agitar-se em demandar salários
a que tinham direito mas sem que
houvesse produção com que pagá-los.
Até que um dia, à beira de uma guerra
civil (palavra cómica pois que do lume os militares seriam quem tirava
para os civis a castanhinha assada),
tudo sumiu num aborto caricato
em que quase sem sangue ou risco de infecção
parteiras clandestinas apararam
no balde da cozinha um feto inexistente:
traindo-se uns aos outros ninguém tinha
(ó machos da porrada e do cacete)
realmente posto o membro na barriga
da pátria em perna aberta e lá deixado
semente que pegasse (o tempo todo
haviam-se exibido eufóricos de nus,
às Africas e às Europas de Oeste e Leste).
A isto se chegou. Foi criminoso?
Nem sequer isso, ou mais do que isso um guião
do filme que as direitas desejavam,
em que como num jogo de xadrez a esquerda
iria dando passo a passo as peças todas.
É tarde e não adianta que se diga ainda
(como antes já se disse) que o povo resistiu
a ser iluminado, esclarecido, e feito
a enfiar contente a roupa já talhada.
Se muita gente reagiu violenta
(com as direitas assoprando as brasas)
é porque as lutas intestinas (termo
extremamente adequado ao caso)
dos esquerdismos competindo o permitiram.
Também não vale a pena que se lave
a roupa suja em público: já houve
suficiente lavar que todavia
(curioso ponto) nunca mostrou inteira
quanta camisa à Salazar ou cueca de Caetano
usada foi por tanto entusiasta,
devotamente adepto de continuar ao sol
(há conversões honestas, sim, ai quantos santos
não foram antes grandes pecadores).
E que fazer agora? Choro e lágrimas?
Meter avestruzmente a cabeça na areia?
Pactuar na supremíssima conversa
de conciliar a casa lusitana,
com todos aos beijinhos e aos abraços?
Ir ao jantar de gala em que o Caetano,
o Spínola, o Vasco, o Otelo e os outros,
hão-de tocar seus copos de champanhe?
Ir já fazendo a mala para exílios?
Ou preparar uma bagagem mínima
para voltar a ser-se clandestino usando
a técnica do mártir (tão trágica porque
permite a demissão de agir-se à luz do mundo,
e de intervir directamente em tudo)?
Mas como é clandestina tanta gente
que toda a gente sabe quem já seja?
Só há uma saída: a confissão
(honesta ou calculada) de que erraram todos,
e o esforço de mostrar ao povo (que
mais assustaram que educaram sempre)
quão tudo perde se vos perde a vós.
Revolução havia que fazer.
Conquistas há que não pode deixar-se
que se dissolvam no ar tecnocrata do oportunismo à espreita de eleições.
Pode bem ser que a esquerda ainda as ganhe,
ou pode ser que as perca. Em qualquer caso,
que ao povo seja dito de uma vez
como nas suas mãos o seu destino está
e não no das sereias bem cantantes
(desde a mais alta antiguidade é conhecido
que essas senhoras são reaccionárias,
com profissão de atrair ao naufrágio o navegante intrépido).
Que a esquerda nem grite, que está rouca, nem invente
as serenatas para que não tem jeito.
Mas firme avance, e reate os laços rotos
entre ela mesma e o povo (que não é
aqueles milhares de fiéis que se transportam
de camioneta de um lugar pró outro).
Democracia é isso: uma arte do diálogo
mesmo entre surdos. Socialismo à força
em que a democracia se realiza.
Há muito socialismo: a gente sabe,
e quem mais goste de uns que dos outros.
É tarde já para tratar do caso: agora
importa uma só coisa - defender
uma revolução que ainda não houve,
como as conquistas que chegou a haver
(mas ajustando-as francamente à lei
de uma equidade justa, rechaçando
o quanto de loucuras se incitaram
em nome de um poder que ninguém tinha)
E vamos ao que importa: refazer
um Portugal possível em que o povo
realmente mande sem que o só manejem,
e sem que a escravidão volte à socapa
entre a delícia de pagar uma hipoteca
da casa nunca nossa e o prazer
de ter um frigorifico e automóveis dois.
Ah, povo, povo, quanto te enganaram
sonhando os sonhos que desaprenderas!
E quanto te assustaram uns e outros,
com esses sonhos e com o medo deles!
E vós, políticos de ouro de lei ou borra,
guardai no bolso imagens de outras Franças,
ou de Germânias, Rússias, Cubas, outras Chinas,
ou de Estados Unidos que não crêem
que latinada hispânica mereça
mais que caudilhos com contas na Suíça.
Tomai nas vossas mãos o Portugal que tendes
tão dividido entre si mesmo. Adiante.
Com tacto e com firmeza. E com esperança.
E com um perdão que há que pedir ao povo.
E vós, ó militares, para o quartel
(sem que, no entanto, vos deixeis purgar
ao ponto de não serdes o que deveis ser:
garantes de uma ordem democrática
em que a direita não consiga nunca
ditar uma ordem sem democracia).
E tu, canção-mensagem, vai e diz
o que disseste a quem quiser ouvir-te.
E se os puristas da poesia te acusarem
de seres discursiva e não galante
em graças de invenção e de linguagem,
manda-os àquela parte.
Não é tempo para tratar de poéticas agora.

Santa Bárbara, Fevereiro de 1976
(aniversário de uma tentativa heróica de conter uma noite que duraria décadas)
(de Quarenta Anos de Servidão, 1979)

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sexta-feira, dezembro 05, 2008

Escrito em 1802...

"I believe that banking institutions are more dangerous to our liberties than standing armies. If the american people ever allow private banks to control the issue of their currency, first by inflation, then by deflation, the banks and corporations that will grow up around the banks will deprive the people of all property until their children wake up homeless on the continent their fathers conquered."

Thomas Jefferson, 1802

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quarta-feira, novembro 05, 2008

Esperança means Hope

terça-feira, novembro 04, 2008

IF YOU'RE AN AMERICAN CITIZEN AND VOTER, THIS IS THE GUY YOU SHOULDN'T VOTE FOR
Foto DAQUI

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domingo, junho 15, 2008

Sabia o estimado leitor que "Tim Osmond" era o nome de Osama Bin Laden enquanto agente da CIA, nos anos 80?

No passado, os políticos ofereciam sonhos de um mundo melhor. Hoje, prometem proteger-nos de pesadelos. No entanto, tal como falsos eram os sonhos, assim são os pesadelos...

Pergunto aos estimados leitores se não se questionam ainda acerca do paradeiro do vilão mais procurado do mundo... Entre muitos factos e documentos que provam a estranha relação entre Bin Laden, a família Bush e a CIA, é sabido, por exemplo, que Osama chegou a passar férias com Bush filho.
É sabido que a família de Osama foi levada confortavelmente - no próprio dia dos ataques de 11 de Setembro, quando o espaço aéreo norte-americano havia sido interditado - num avião para destino incerto, no exterior dos EUA, por motivos de segurança... da família Bin Laden.
É também certo que, quatro dias antes das eleições presidenciais norte-americanas, Osama lançou um vídeo denunciando George W. Bush, garantindo-lhe o segundo mandato, debaixo da ameaça terrorista.
Pois bem, "Tim Osmond" - alguns sites utilizam a grafia do apelido como "Osman" - era o nome de código americano de Osama quando, entre 1979 e 1989, exerceu funções para a CIA. O tratamento que Osama e a sua família receberam no passado e hoje, mesmo depois da ascensão do extremismo islâmico, poderá indiciar a possibilidade de Osama ainda ser um activo.
Sem entrar em especulações desnecessárias, mas sabendo que o que aqui exponho nada tem de novo e que muito há por onde averiguar, volto a recordar os estimados leitores de um texto AQUI publicado há mais de dois anos - anteriormente levado à estampa por um jornal regional cujo nome prefiro não revelar, em duas partes, a 27 de Março de 2004 e a 15 de Maio do mesmo ano -, cujo título se aplica tão bem hoje como então: "Será Bin Laden o actor mais bem pago de Hollywood?"

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segunda-feira, fevereiro 18, 2008

sexta-feira, janeiro 11, 2008

Programa Porta 65 Jovem reavaliado já!

As candidaturas do primeiro concurso relativo ao programa Porta 65 Jovem foram 3.561. O governo anunciara uma expectativa de 20 mil candidaturas. O número demonstra o rotundo falhanço do programa no que concerne ao apoio ao arrendamento para jovens e demonstra a sua ineficácia face aos objectivos que visava cumprir.
E o mais caricato é que as regras deste programa, que substituiu o IAJ (Incentivo ao Arrendamento Jovem), foram criadas justamente com o objectivo de reduzir substancialmente o apoio e o número de jovens apoiados pelo Estado no seu acesso à habitação, por forma a poupar uns milhões de euros, graças às exigências da União Europeia. O défice é, assim, combatido pelo Governo português à custa dos direitos e da despromoção da qualidade de vida da população.
Nisto, o Porta 65 Jovem diminuiu o apoio de cinco para três anos, prevendo a diminuição quantitativa progressiva do apoio ao longo desses três anos; desligou-se completamente da realidade e previu um tecto máximo de valor de renda muito abaixo daquele que é praticado nas várias localidades deste país.
Quando prevê uma renda máxima admitida de 340 euros para um T0 ou T1 em Lisboa, ou de 220 euros para o Porto ou Setúbal, está a impossibilitar de forma exponencial o acesso dos jovens ao programa, não porque não tenham dificuldades económicas, não porque não tenham idade para a candidatura, mas pura e simplesmente porque não conseguem encontrar uma casa para arrendar pelos valores estipulados. Os valores de renda praticados no mercado são muito superiores.
A esta realidade, o Governo argumenta que se pode estar perante um mecanismo que levará à baixa de preços de arrendamento. Nada mais falso. A criação do Governo é um mecanismo que fomenta a fuga fiscal, na medida em que fomenta valores contratuais de arrendamento falsos que possibilitem acesso ao Porta 65 Jovem, sendo que a outra parte da renda, não declarada, ficará à margem de qualquer recibo e, portanto, não declarada para efeitos fiscais.
Considera o Governo que, se forem essas as circunstâncias, os cidadãos serão polícias e delatores uns dos outros e que poderão sempre denunciar estas fraudes. Não deixa de ser curioso que o Governo altere o IAJ com o argumento, como de resto fez com outros subsídios, de que havia muitas situações indevidas na atribuição desses apoios (assumindo a sua inqualificável incapacidade de fiscalizar a atribuição dos mesmos) e depois crie um programa altamente restritivo e até incentivador de fraudes.
Mas este critério desadequado do valor máximo de renda admissível tem ainda outra consequência preocupante, que se traduz no afastamento dos jovens dos centros urbanos para procurar habitação mais barata nas periferias, fomentando-se, assim, problemas graves de ordenamento do território e de mobilidade que se procuram inverter, mas que são incentivados por programas deste tipo.
O direito à habitação é um direito constitucionalmente consagrado, mas através do fim do IAJ e da sua substituição pelo Porta 65 jovem o Governo contribuiu grandemente para dificultar o acesso à habitação para os jovens portugueses.
O apoio ao arrendamento jovem é um instrumento fundamental para promover a independência dos jovens e garantir o seu acesso à habitação. Com a dificuldade de aceder a esse direito, os jovens retardam as suas opções de constituir família e, mais uma vez, revemos um exemplo de como o Estado dá com uma mão para de imediato retirar com a outra, se pensarmos nos apregoados (mas diminutos) apoios à natalidade. Quando toca a garantir dignas condições de vida que permitam aos cidadãos fazerem opções como ter filhos em consciência, o Governo é exímio em retirar e diminuir tudo, como a habitação.
E isto é tanto mais relevante e elucidativo quanto neste país o desemprego dos jovens é uma realidade crescente, e designadamente entre jovens qualificados. E aqueles que encontram emprego sujeitam-se a salários vexatórios, especialmente se comparados com os de jovens de outros países da União Europeia.
É triste verificar como este PS encara os apoios sociais como um privilégio, quase como um favor que o Estado faz, e não como um direito dos cidadãos e um dever do Estado para lhes garantir acesso a questões essenciais, igualdade de oportunidades e dignas condições de vida.
É por isso também que para o programa Porta 65 Jovem, tal como para outros apoios, o Governo criou um processo de candidaturas altamente burocrático, contrariando toda a lógica "simplex" com a qual se procurou vestir politicamente, tentando passar uma imagem de grande aproximação do Estado aos cidadãos, o que de todo se prova não constituir uma realidade generalizada.
Tal como o Governo recuou, como não podia deixar de ser, na absurda ideia de pagamento da actualização de pensões durante longos meses, deve também recuar no Porta 65 Jovem e promover a sua urgente reavaliação, por forma a garantir aos jovens deste país, que dele precisam, um verdadeiro apoio no acesso à habitação. O Governo não pode continuar a virar costas à população. Os portugueses estão a pagar um preço demasiado caro, nos índices de desemprego, na pobreza cimentada, na falta de direitos básicos que estrangula este país e o desprestigia a todos os níveis. É tempo, pois, de reforçar as exigências que o Governo deve a este povo.
Texto editado com base no comunicado proferido ontem, dia 10 de Janeiro, pela deputada Heloísa Apolónia (Os Verdes) na Assembleia da República

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segunda-feira, setembro 24, 2007

Sondagem Cordiana VII: Saramago previu o nascimento de uma "união ibérica" entre Portugal e Espanha. Deveria, ou não, ser criada a Ibéria?

Como diria Cavaco, trata-se de uma ideia absurda;

Sim. Tarde ou cedo, acabaremos por integrarmo-nos, por isso...;

Nunca! Nem os espanhois querem ser espanhois!

Culturalmente, nunca nos integraremos, mas politica e economicamente, sim;

Nao. Trata-se de uma utopia indesejada. Viriam a superficie todos os preconceitos anti-espanhois;

Sim. Nao deixariamos de falar nem escrever em portugues e, com 10 milhoes, teriamos tudo a ganhar;

Nao. Portugal construiu-se sobre uma hiperidentidade nacional que inclui um enorme receio de Espanha;

Sim. Haveria partidos, um parlamento unico e parlamentos proprios das autonomias;

Nao. Nem que a capital seja Lisboa!;

Sim, se a capital for Lisboa.

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terça-feira, julho 17, 2007

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Com um agradecimento especial a JPG (Apdeites)

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domingo, julho 15, 2007

Alguém me explica porque é que a sede de campanha de António Costa está repleta de velhinhos de Cabeceiras de Basto?