terça-feira, dezembro 27, 2005

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segunda-feira, dezembro 26, 2005

"Mas o homem nunca deve confessar-se vencido", disse ele. "Um homem pode ser destruído, mas não vencido."
Ernest Hemingway, in O Velho e o Mar

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domingo, dezembro 25, 2005

"Beginning and the End", de Anthony Falbo

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sábado, dezembro 24, 2005

O Fim?

O autor está em crise. Não uma crise física, nem de robustez nem de sanidade, acrescento, para tranquilidade relativa daqueles que se preocupam. Pondero, por imposição circunstancial que me é alheia, não dar seguimento ao Caderno de Corda. A mim, mais do que a qualquer outra pessoa, entristece tal possibilidade. Tal não se deve, por certo, à cessação do prazer de escrever e de «abrir as portas ao mundo», coisa que de todo é obscena... Curiosamente, ao publicar o post anterior - sem qualquer relação com um sucedido que não tornarei público e que significa uma viragem radical no prosseguimento do meu caminho -, pressenti o fecho de um ciclo, daqueles que, de um dia para o outro, nos empurram para um destino inesperado na encruzilhada da vida. A premonição revelou-se, inesperada e cruel, ontem. Este post tem de, inevitavelmente, perspirar intranquilidade, receio, desilusão, tristeza. Se assim não fosse, não partiria do coração, não transparecia o que me vai na alma, não subscreveria a condição que tem feito deste blogue desaguadouro de paixões, pressentimentos, afecções, intuições, sensações, juízos, tristezas, mágoas, desgostos, ideias, convicções, opiniões, desejos: a sinceridade. Hoje, vésperas de Natal, é um dia triste, inquietante. O Caderno de Corda pode, mesmo admitindo que não tem os dias contados, não manter, a partir deste momento, a regularidade diária por que se tem pautado. Repito tal não se dever quer ao esgotamento de matéria lírica, poética ou prosaica, quer ao quebranto do desígnio incontornável da escrita. A impossibilidade tornar-se-á em breve física e também íntima, por fragilidade do foro privado. Agora, o processo requer interiorização profunda e, apenas à posteriori, exteriorização. Trocado por miúdos, algo sucedeu na minha vida que transformará o meu posicionamento no mundo, o meu futuro. O que quer que escreva agora não é publicável de imediato. O fim de algo chegou. Ainda não sei bem do quê...

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quinta-feira, dezembro 22, 2005

Nota Explicativa 3 - "Dislates da Adolescência", Fecho do Livro Terceiro

Depois de, numa terça-feira, 26 de Abril de 2005, ter fechado, numa nota explicativa, o Livro Primeiro, a que apelidei "Lohengrin" - 27 poemas escritos ao longo de dois meses; e depois de, numa quinta-feira, 12 de Maio de 2005, ter voltado a fechar, em nova nota explicativa, o Livro Segundo "Maratona de Mim Exangue em Mágoa Desmamado", fecho hoje o terceiro livro, "Dislates da Adolescência", sendo certo que não mais aqui se lerão textos ou poemas titulados "Poemas da Adolescência". Marco assim o término do contributo da velhinha agenda onde guardava os escritos da pós-puberdade, que deixou de poder abeberar o Caderno de Corda, enxuta, transcrita na totalidade do que dali considerei aproveitável.

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terça-feira, dezembro 20, 2005

Leia-se: Verdadeiros rebeldes não prestam culto a uma imagem. No caso, o corajoso Che, em alusão ao Big Brother, supondo-se Estaline a figura estática do bigodaças omnipresente e desconfiado da obra 1984, de Orwell.

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segunda-feira, dezembro 19, 2005

Poemas da adolescência 35

Numa estrada para nenhures,
salve-se quem puder;
subam estrelas da fusão
que até o céu pertence
aos senhores doutores da aflição!
Medalha de ouro, brilho crepuscular,
fenómeno boreal...
Etéreo tesouro, sorriso de mar...
Leve e sinuosa, no entanto abundante,
é urgente uma onda imensa de verdade desconcertante
e amor devorador!
Que não é um patrão nosso senhor;
é apenas na hierarquia o primeiro,
o que ganha mais dinheiro,
o que avalia nosso labor,
mas nunca nossos corações,
que oferecemos ao mundo inteiro.
"Sigamos Ricardo III;
crucifiquemos Cristo!"
Eu cá não sou o primeiro,
mas se o houver,
damos todos cabo disto.

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domingo, dezembro 18, 2005

Luís Vaz de Camões (nascido em lugar incerto, provavelmente Lisboa, em 1524 ou 1525, faleceu em Lisboa, a 10 de Junho de 1580)

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sábado, dezembro 17, 2005

A Luís Vaz de Camões

De tanto ter para dizer nada digo
por tudo o que do mundo desconheço.
Mas serei eu novo no escrever e no apreço,
ou será que simplesmente não consigo?

Se não sinto ter o tempo em que me abrigo,
e me foge cá de dentro um fogo aceso,
deixo-me ir no vão inerme, a sair ileso
dessa selva a que não pertenço, essa tribo.

Por vezes escrevo para segurar o tempo,
que logo foge por entre os dedos, diluído;
Outras, durmo o tempo dissolvido e as ilusões.

Às vezes deixo de lado o que não entendo,
silencio na almofada o ruído,
que só o marulhar inspirou Camões.

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sexta-feira, dezembro 16, 2005

Palpitei acertadamente: Benfica-Liverpool nos oitavos-de-final da Liga dos Campeões

Como se escreve n' A BOLA online, «o Benfica vai defrontar o Liverpool, actual detentor do título, nos oitavos-de-final da Liga dos Campeões de futebol, segundo ditou o sorteio efectuado hoje na sede da UEFA em Nyon, Suíça. A equipa portuguesa realiza o jogo da primeira "mão" no Estádio da Luz a 21 ou 22 de Fevereiro.
O encontro da segunda "mão", agendado para Anfield Road, realiza-se a 7 ou 8 de Março.O grande embate destes oitavos-de-final, por efeito do sorteio, vai ser derimido entre as duas maiores potências do actual futebol europeu, Chelsea e Barcelona.»

Os jogos:

Chelsea (ING)-Barcelona (ESP)
Real Madrid (ESP)-Arsenal (ING)
Werder Bremen (ALE)-Juventus (ITA)
Bayern de Munique (ALE)-AC Milan (ITA)
PSV Eindhoven (HOL)-Lyon (FRA)
Ajax (HOL)-Inter de Milão (ITA)
BENFICA (POR)-Liverpool (ING)
Rangers (ESC)-Villarreal (ESP)

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Mulher esquimó junto a um velho fogão

Localização: Rio Yukon (lamentavelmente, desconheço a autoria)

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Areias de Júpiter (música inacabada)

São gomos de areia molhada,
os pés que pisaste,
bem-me-quer desfolhado...
e assustado
no olhar suicida que me lançaste...
Ouvi dizer que bebeste o ruído
e nem caíste de solidão;
escorreste a garrafa que repousa,
partida, como tu, no chão.
Muda de roupa e um colchão
- banhando o sol de nós.
Calma prometida e prateada...
lenha ou gás para o fogão,
a senha ou a porta fechada,
e tudo para finalmente te ter
em areias de Júpiter.
E sem qualquer explicação,
sem o dom de antever o senão,
inocente o esquimó que não conhecia a Deus,
pecado ou religião

(...)

n.b. - Peço desculpa ao estimado leitor pelo devaneio inacabado e, ainda por cima, inconclusivo. Acontece que encontrei este velho pedaço de letra de uma música que, já há uns valentes anos atrás, não terminei - Areias de Júpiter. Coincidentalmente, uma ideia (a do esquimó) persiste. Em situações normais não publicaria este texto. Faço-o para que não me esqueça dele; para que o não perca no bolso de um casaco de Inverno, mesmo não vindo a ter qualquer uso posterior ou importância...

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quinta-feira, dezembro 15, 2005

"A medicina cria pessoas doentes; a matemática, pessoas tristes, e a teologia, pecadores" (in Apophthegmata, Martinho Lutero)

Porque é que me falou disso?

“Um caçador esquimó pergunta ao missionário:
- Se eu nunca tivesse ouvido falar de Deus e do pecado, teria ido para o inferno?
- Não, porque nesse caso estarias na ignorância!
- Sendo assim, porque é que me falou disso?”

Extraído de La Vie Eskimo, XXX.

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terça-feira, dezembro 13, 2005

segunda-feira, dezembro 12, 2005

"Não vejo nos outros homens animais ferozes, mas crianças que cresceram" (Jeremias Cabrita da Silva)

Classic Theme. Foto de Manuel Alvarez Bravo

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domingo, dezembro 11, 2005

Palavra vulgar

Tantas palavras e letras;
tantas sentidas canções,
poemas de dor, alarido, tristeza,
e apenas uma palavra soletra
algo que vai perdido
em tantos corações...

Amor...

Tantos homens de riqueza
dizem-na como dor de consciência,
que também arde não se vendo;
vêem-lhe formas de beleza,
e não sentem penitência
em trair quem os vai amando.

E a palavra, comum, ordinária,
cai na boca da mulher que o fode,
repetindo a palavra corrente, vulgar,
"amor!", as vezes que pode...
Tantas quantas ele podia comprar.

Desvio o olhar.
Tanta choradeira e vociferação,
tanta gente nua, pés descalços no chão,
carne quase crua ao almoço,
outra vez pé descalço no Verão.
Venha mais uma imperial e um prego,
E seja Inverno; seja Verão...
Solidão e um campo aberto...
Companhia no deserto...
E a felicidade de não se estar certo
nem politicamente correcto.
Sem a pressa de chegar,
Carne crua come o cão na rua,
onde o faro o conduz incerto,
na calçada de contornos indistintos,
sob a lua.

E a palavra, trivial,
chega a ser ofensa
ao fazer do sublime, banal!
Quem diz um amor corriqueiro,
um amor usual,
não merece confiança,
porque engana o mundo inteiro!

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sábado, dezembro 10, 2005

O estádio onde vi centenas de jogos de futebol

Para a esquerda, no topo Norte, estava o camarote 153, e o ar suspirante que ali paira agora no vazio, sussurra saudade...

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sexta-feira, dezembro 09, 2005

Eu gosto de benfiquistas de bigode

Não declarando considerar Luís Filipe Vieira (LFV) um exemplo modelar seja do que for - até porque não o conheço senão da televisão -, sinto uma positivididade inexplicável nele enquanto associado ao clube. LFV é, sem dúvida alguma, um verdadeiro benfiquista. Excede-se pelo extâse natural de uma paixão profunda que lhe corre nas veias. Uma religião? Talvez-de-certeza. Ontem, esteve na festa da casa do Benfica de Fafe e reafirmou a natural aspiração de um colosso mundial, um imenso monstro (mas de alegria) adormecido: «Benfica campeão europeu». Imagino as veias dilatadas por debaixo do cachecol vermelho licenciado no pescoço, os perdigotos no bigode, os braços abertos e, como um pregador a tempo gospel, os olhos desfocados, depois estrelas, uma noite escura, e o regresso da visão esvaziando os pulmões, com a plateia conquistada - ou a plateia conquista-o? Isso tem um nome: benfiquismo. No dia seguinte à histórica vitória sobre o Manchester United, conquistar o título europeu até parece plausível. E é mesmo. LFV não só nos diz o que queremos ouvir. Ele diz o que é preciso dizer. Porque acredita.

N' A BOLA online, escreve-se, a certo ponto:

"Perante cerca de um milhar de adeptos, o presidente dos encarnados salientou que «o plantel demonstrou no jogo frente ao Manchester United o que é garra, o que é querer ganhar e cumprir objectivos. Por isso, quando o jogo acabou, não se pensou no próximo adversário, mas sim na certeza de que quem vier será eliminado», salientou. Isto porque Luís Filipe Vieira tem... um sonho: «Gostaria de tornar o Benfica campeão europeu, título que ofereceria a Eusébio.»"
"Deusébio" da Silva Ferreira e Toni "Saudade Be God"
"Deusébio" é mais do que o maior de todos os tempos; mais do que um ídolo; mais do que um exemplo de benfiquismo e do carinho benfiquista para com quem trouxe a águia no peito aberto e verdadeiro; mais do que uma estátua. Bebe? É um estandarte do clube? Não foi para o estrangeiro por causa do Salazar? Tem as mãos pequenas? Não é prolixo? Deusébio é um mito vivo, um verdadeiro imortal. Duncan McLeod senti-lo-ia num raio de quilómetros, mas Deusébio é amigo e a Luz é o seu terreno sagrado. Sabiam que, em Março de 1974, estreou em Lisboa o filme "Eusébio - A Pantera Negra"? Como é que eu nunca vi esse filme?!
Toni fecha o post e o segredo não é apenas o bigode. Talvez até tenha sido por ele que iniciei a empreitada. Toni foi considerado pela imprensa desportiva o futebolista do ano de 1972, mais precisamente a 12 de Fevereiro de 1973; em 1985, com John Mortimore como treinador principal, era parceiro de Eusébio, ambos treinadores-adjuntos; mais tarde, já no comando da equipa, vencia jogo atrás de jogo, sempre com o coração nas mãos, tantas vezes nos últimos 10 minutos, com equipas desequilibradas, que levou a duas finais europeias, venceu campeonatos e foi finalista da taça de Portugal. Porquê? Porque acreditava. Toni exalava benfiquismo numa radiância ultra-sensível e isso existia dentro e fora das quatro linhas. Praticava-se futebol e paixão. Estádios cheios e também algo que, espero, ainda se mantenha: respeito, cordialidade, fraternidade. Curiosamente, foi mesmo o anticristo João Vale e Azevedo quem teve a ideia de, em 1994, despedir Toni, também traído pelo sonho do amigo Artur Jorge, de treinar o Glorioso. Seria bom que Luís Filipe Vieira se lembrasse de Toni, um amigo do peito, do Benfica e da comunidade benfiquista. Ele tem o Benfica na alma. Aliás, "Toni - O Benfica na Alma", é o título de uma biografia da autoria de Palmira Correia. No prefácio, escrito pela pena de Manuel Alegre, grafadas estão estas palavras:
«Ele não é desta selva, é de outro tempo, outra cultura, outra ética. E até de outra estética. A atitude e a inteireza fazem parte de uma espécie de luz que certas pessoas trazem dentro de si. Toni é assim. Ou como dizem os meus filhos: ele é dos nossos.»

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Poemas da adolescência 34

Não esquecendo o sorriso que desenhas no canto esquerdo da tua boca, e não obstante a malícia que imprimo em insignificante texto, espécie de delícia de espírito e engenho, enlevo da vida e da morte, dedico-te o tempo e faço crer que o digo sem sorte.

Há um copo de vinho e velas no teu imaginário...

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quarta-feira, dezembro 07, 2005

Benfica 2-1 Manchester United. Um resultado histórico

Who are the champions, uh? Juventus (grupo A), Arsenal (grupo B), Barcelona (grupo C), AC Milan (grupo E), Lyon (grupo F), Liverpool (grupo G) e Inter de Milão (grupo H). Uma destas equipas - todas elas primeiras classificadas nos respectivos grupos - será adversária do Glorioso nos oitavos de final da Champions League. Eu palpito Liverpool... A sina italiana agasta-me e deprime-me pensar que, em sete equipas possíveis, três são italianas... Goodbye Trafford Road. Se tivermos de lidar com italianices, espero que possamos dizer arrivederci...
Foto ASF

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2-1!!! Há esperança na Champions

O Benfica acabou de fazer o segundo ao Manchester, na Luz. Estou siderado... Uma equipa remendada está a reagir muitíssimo bem ao golo inaugural dos devils ingleses, logo aos 6 minutos. Geovanni e Beto marcaram. Vamos a eles!!!

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segunda-feira, dezembro 05, 2005

«Quando mija um português...»

O Pinto lá me enviou umas fotos da malta. Esta, tirada em Novembro de 2003, no Alto de Sta. Catarina, junto à casa do Bill, é publicada em homenagem aos Baby Jane. Da esquerda para a direita, João Carlos, Pinto, Tomás, Paulo e eu... «Vamos partir este bar!»

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domingo, dezembro 04, 2005

São três músicas: Italian Wool, Dia Final e Universo de 1

Este post serve apenas para recordar os estimados leitores de que, como referido no dia 18 de Novembro, sexta-feira, o Caderno de Corda está sonorizado a três demãos. As três músicas (Italian Wool, Dia Final e Universo de 1) foram já caracterizadas em posts anteriores e as respectivas letras encontram-se publicadas. Acaso se sintam saturados de Italian Wool (tema de abertura do blogue), podem sempre fazer uma audição a Dia Final (recomendo ouvir até ao fim) e Universo de 1. No canto inferior direito do leitor (de cores vermelha e branca) que se encontra por aí, à direita, cliquem na setinha de baixo para abrir uma espécie de pop-up de tom esbranquiçado. Verão as três músicas de que vos falo. Podem também simplesmente clicar nas setinhas que, à esquerda do potenciómetro (escala de volume), saltam, para a frente ou para trás, a música ouvida correntemente. Boas audições... espero.

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sábado, dezembro 03, 2005

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A sociedade? (Jeremias Cabrita da Silva)

(...) «A sociedade? A termiteira? Morfeia pior do que sanguessugas... Oxigenadas sejam as suas estruturas, carcomidos os cabos que a sustêm em equilíbrio desigual mas dinâmico. Minha doutrina é código secreto... estrelas no céu ditando um soneto, olhos perdidos, coisas simples... mas não partirei sozinho, ou não terei destino, apenas caminho.»
Jeremias Cabrita da Silva
n.b. - Jeremias Cabrita da Silva completou, tal como eu, em Novembro, mas no dia 4, 82 anos. Não festejou, naquela casa isolada, distando 3 quilómetros da Cuba do Alentejo... Hoje escolhi este pequeno trecho de um texto dele, ao passar os olhos pelo tal caderninho que Jeremias me deu e que guardei no bolso. Escrevia eu no Caderno de Corda, dia 6 de Outubro: «Frases curtas mas amplas de interpretação, objecto e contexto, desabafos e máximas que o senhor Jeremias Cabrita da Silva seleccionou para que eu as tivesse comigo, naquela caligrafia perfeita à custa da palmatória. A publicação ocasional de pequenos textos ou apontamentos deste não-autor continuará a ser prática no Caderno de Corda.»

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sexta-feira, dezembro 02, 2005

Fernando Pessoa (1988-1935)

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quinta-feira, dezembro 01, 2005

Aniversário (Álvaro de Campos)

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa como uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa-o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...


Álvaro de Campos (Fernando Pessoa), 15/10/1929

Fernando Pessoa faleceu no dia 30 de Novembro de 1935. A curiosidade não se queda por aqui: Que melhor poema do que este para eu publicar no Caderno de Corda, hoje, um dia depois do meu aniversário?

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