sexta-feira, julho 29, 2005

Foto de Luís Carvalhal

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Anamnésias 4

Jim, Sofia e a insustentável leveza do ser, Parte 1
Jim e Sofia, dois jovens namorados adolescentes, descobriam os segredos do corpo no corpo do outro. Ensinaram-se a amar. Eram longas as horas passadas em casa de Jim, aproveitando a ausência dos pais, que trabalhavam todo o dia, fruindo minuto a minuto de amor novo e sedento. Haviam experimentado juntos todas as formas de amar que a imaginação e as divisões da casa de Jim permitiam. O sofá e a cama deixavam de ser alternativas na expectativa dos sentidos, como se num mundo só deles procurassem novas impressões sem vergonha nem pudismo. Bastava estarem juntos para que a demanda das sensações se sobrepusesse ao preconceito e à razoabilidade castradora da moral instituída. Poder-se-ia dizer que viviam em pecado. Dizia Sofia a Jim, por entre beijos esfaimados:
- Vamos experimentar noutro sítio, um sítio diferente.
- Mas... Sofia, só falta a dispensa, e não me parece que...
- Não, um sítio diferente... perigoso... – os olhos de Jim brilharam, acompanhando um ligeiro sorriso leonardesco no canto da boca.
- O elevador! Vamos para o elevador!
Jim disse o que Sofia queria ouvir mas não dizer, ao jeito tipicamente feminino. A resposta de Sofia foi um salto repentino dos pés da cama de Jim, onde se encontrava, dirigindo-se ao hall de entrada, reluzindo um sorriso convidativo, por segundos inocente. Daí ao elevador, foi um ápice.

(Não perca o segundo e último episódio desta verdadeiramente curta e verde very short story - To be continued on Anamnésias 5)

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quinta-feira, julho 28, 2005

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Poemas da adolescência 14

A carne e a putrefacção,
beleza e danças de salão.
Amor e amizade,
traição e cumplicidade.
Oh!, dizes quão amargurado estou
e eu surpreendo-te a sorrir,
furiosamente a sorrir!
Depois, somos arrastados
por um irresistível fio de violinos d'oiro
e vemo-nos pela mesma efígie,
brandamente sorrindo para a morte.
E pensamos que as ondas nunca nos trucidarão contra a pedra,
sempre austera.
Presente, a morte não me olvidará?
Tempo, mataste a esquecer!
Trazes-te maltrapilho,
mas que personagem curioso...
Ora, não olharei para trás,
inventarei uma constituição,
uma assembleia em meu redor
onde instituirei a Terra do Sempre,
raiana à silhueta deste corpo.
E inventarei um teleférico
com tubos que deslizam sem defeito até à lua.
E mais: irei longe nesse teleférico.
Alcançarei outros planetas
e tudo será perfeito.
Tão perfeito... de vómitos.
Os objectos serão inquebráveis,
as esferas rolarão todas sem pigmentação.
O ser será... ou não?

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quarta-feira, julho 27, 2005

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Anamnésias 3

Eis o deserto. Areia tão fina que parece pó. Uma volúpia asceta, eremita e poética se apodera de mim, pequeno como nunca me havia sentido. O céu em tons de laranja. Eis o crepúsculo dos deuses esquecidos. Tenho os pés enterrados na areia intensamente quente, como que pulsando do seu imo um sol que acaso se deita no horizonte. A fina areia, quase branca, como pó se instalou nas minhas vestes, no meu cabelo, nos meus olhos. Com o reflexo do sol, torna-se dourada, e as sombras de pirâmides delirantes, esculpidas pelo vento, conferem-lhe dois tons de castanho. Diante de mim, um mar de areia, ondulações de dunas sem cabo de tormento, qual mar verdadeiro, mais só que o primeiro, sem lua que prateie seu movimento. Sou rei lagarto e águia rapinante nos céus da cúpula visceral das paredes de mim dentro. Sou encantador de serpentes que dançam seduzindo o sedutor, e o feitiço torna ao feiticeiro. Sou dentro e fora por inteiro sem, no deserto desabrigado, saber quem sou eu cá dentro embriagado, além dos poros, dos suores e das entranhas, o verdadeiro. Eis o deserto inconformado de mim dentro cá fora, a mensagem na botelha por defeito escrita, esteiro, estendendo-se pela terra dentro, de rio ou mar braço estreito.

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terça-feira, julho 26, 2005

Foto de Bruno Espadana. Guincho.

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Poemas da adolescência 13

Dedico-te estes versos sem saberes.
Nem gosto de poesia por obrigação,
mas quem quer ter direitos,
deve também ter deveres.
A propósito da brevidade do gesto,
escolhi-te para posares para mim.
Tinhas um jeito engraçado de andar
e eu lia nos teus olhos o “sim”
que a tua boca se dava a cantar.
Se não te souber descrever, não faz mal,
conheço os teus pequenos gestos.
Não são memórias perdidas, não.
Não são dolorosos momentos,
nem réstias de imaginação.
A propósito da brevidade do gesto,
optei por pensar em ti,
que, sem ti, que é feito da inspiração?
Tinhas um jeito engraçado de rir,
um pouco infantil até.
Lembro-me de tudo.
Da cabeça aos teus pés.
Lembro-me de que soavam lentos os teus passos.
Quando te aproximavas de mim,
sentia-te como cálidos ventos,
e pelo caminho, a teus pés prostrados,
os meus olhos em ti,
zéfiro-mulher dos meus tormentos.
Fica-me na memória a forma como seguravas o cigarro.
E nesse breve instante, um gesto sempre desconhecido.

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segunda-feira, julho 25, 2005

Den Haag, Holanda. Que o Alentejo nunca chegue a isto. Não falem da Costa Vicentina a mais ninguém, especialmente "camones".

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Diário de Bordo IV - E pronto... já findou o fim-de-semana

A Costa Vicentina parece ser a nova Meca turística. O Algarve, mais anglo-saxónico que português, já perdeu o estatuto de paraíso balnear, talvez com o declínio do poder de compra, com o aumento desenfreado do combustível e o facto de ser mais longínquo de qualquer ponto do país do que o Alentejo. Hoje estive sentado à mesa de um restaurante na Zambujeira do Mar durante 45 minutos, após ter pedido um hamburguer. Queria ir para a praia. Ao fim desse tempo, disse a uma menina talvez com os seus 13 ou 14 anos, ali empregada neste período de enchente, que, se acaso demorasse mais do que dez minutos, abandonaria o estabelecimento, ao que ela, pedindo desculpa, respondeu que o hamburguer não havia ainda sequer começado a ser cozinhado. A prossecução da tarefa obecia à ordem de chegada dos pedidos. Já noutro estabelecimento um pouco mais acima, confessaram não haver, nesta época do ano, literalmente mãos a medir para o grau de exigência, a sobrecarga incomportável de trabalho e consequente incapacidade de resposta. Meu querido Alentejo para onde era ainda possível fugir... Parar para pensar. Sentir o tempo soprar docemente uma maresia inspiradora. Deixar o espaço dilatar-se no som quente do marulhar oceânico. Sem stresses.

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Amílcar Cabral, a propósito do mito

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sexta-feira, julho 22, 2005

Diário de Bordo III - Sodadi

Ami ka sibi ke ki m' pudi fala. Ami tene manga di dificuldadi pa scribi crioulo di Guiné. Bárbara, nha ermon di corçon, telefonou-me pa nô djubi banda di reggae. Ami ka tene kussas pa fasi e, obviamente, fui. Ami scribi apenas pa falar mantenha pa tudo djintis di Guiné Bissau. M' tene manga di sodadi. Nô na odja. "Mindjeris di pano preto, ka bô tchora pena..."; "Suma pô, tudo tarda ki tarda na mar, i kata bira lagartu". ..Se não for exactamente assim, é quase. Já agora, aproveito, a propósito do revivalismo lírico, para fazer uma homenagem menos que singela a um dos maiores músicos intervencionistas da praça guineense e, diria, de África e do mundo: José Carlos Schwartz. "Bárbara, Bárbara, nunca é tarde, nunca é demais; onde estou, onde estás?" Sim, Caetano agora.
Ami é pó di terra mas djitu ka tem!
Apenas, e essencialmente, para mandar um beijinho à Bárbara, com quem estive esta noite, principal responsável pela positiva viragem na minha vida que foi ter feito voluntariado na Guiné. Um beijinho muito grande para ela.

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quinta-feira, julho 21, 2005

Semedo, lembras-te desta? Restos da stag party do Pinto...

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Poemas da adolescência 12

Perdeu-se num natal definitivo,
agarrado à garrafa, para não cair.
Eu trazia-o no coração e, com um ar aflitivo,
olhos fora das órbitas, passou-se por mártir.
Abracei-o. Quem tiver muito,
não chegue um dia a ter nada.
Desculpei-o. E quem tiver nada,
é sabido que tudo ganha.
A esses, tudo é oferecido,
num sorriso nunca contido,
num abraço que durará uma vida.

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quarta-feira, julho 20, 2005

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terça-feira, julho 19, 2005

"A política foi, primeiro, a arte de impedir as pessoas de se intrometerem naquilo que lhes diz respeito. Em época posterior,

acrescentaram-lhe a arte de forçar as pessoas a decidir sobre o que não entendem."

in "Olhares Sobre o Mundo Moderno", Paul Valéry

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segunda-feira, julho 18, 2005

Assembleia da Tertúlia

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Sonho Português (Baby Jane)

Esta é a história do nosso Portugal.
Para rimar, muito tradicional.
Ouçam bem e já vão perceber
O que este som vos pode fazer...

O que pode; o que pode fazer...
Vocês já vão ver o que vos pode fazer.

Já só há telefones de cartão
Quando eu só tenho moedas à mão.
Não se paga multa pelo lixo no chão
Mas tenho de limpar os presentes do meu cão,

Eu quero outra constituição
Para não ter de limpar os presentes do meu cão.

Tenho uma banda, não me deixam tocar;
Mulher e cinco filhos para sustentar.
Digam-me lá o que posso fazer,
A minha vida é uma miséria, nem tenho o que comer...

Eu não sei o que posso fazer...
Vou raptar o Presidente e do resgate comer.

Quando eu raptei o Presidente
Pudemos dar (2x), dar ao dente.
Fomos viver para o Palácio de Belém
Os cinco filhos, a mulher e a minha mãe.

Realizou-se o sonho português
Num país onde vencem dois ou três.
Eu e o Presidente ficámos unha com carne
Meteu uma cunha e hoje sou cantor de charme.

Sou, sou, sonho português (4x)


n.b. - Escrito num jardim hoje de inspiração zen, re-inaugurado por volta de 2000 pelo Dalai Lama, o "Sonho Português" data já de há talvez nove ou dez anos. Eu e o Saulo Mendes queríamos fazer uma brincadeira tendo como base musical o "Blue Suede Shoes", do Presley. Adaptámos a música aqui e acoli para vestir esta letra, que obedece à métrica do original, se a isso atentarem. Os Baby Jane (banda que ainda procuramos manter) tocaram-na durante algum tempo, até que o reportório se alargou e a tornou dispensável. Hoje publico aqui a letra... para mais tarde recordar.

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Vermelhinho! Tão catita.

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Parabéns Miniscente

Em Roma, sê romano. De finais de Março para cá, quando nasceu o Caderno de Corda, apercebi-me do costume entre blogueiros - bloggers - de parabenizar, ou congratular - confesso, prefiro -, os aniversários de blogues lidos ou admirados. Não deixarei passar a oportunidade, dirigindo-me nesse propósito ao professor Luís Carmelo e ao seu Miniscente.
Partindo do princípio filosófico basilar de que qualquer generalização induz em erro, direi apenas que o Miniscente é, dos blogues que conheço, talvez o mais completo e versátil, arquitectado de modo que ultrapassa a simplicidade de usos que a grande parte destas páginas normalmente apresentam. Só pode melhorar daqui em diante, mostrando o caminho a muitos que se mantêm atentos ao trabalho ebuliente do professor e escritor. A escrita, não ouso obviamente sequer comentar. Não terei autoridade para tal. Muito aprendi com Luís Carmelo, um dos poucos professores num curso de jornalismo que fez com que os alunos realmente escrevessem, se confrontassem com a dimensão criativa e interior de si mesmos e dos outros, e, a cereja no cimo do bolo, discutissem proficuamente com ele, que se preocupava singularmente com os discentes.
Pelo segundo aniversário do Miniscente (15 de Julho), parabéns atrasados. Por tudo o resto, parabéns e obrigado.

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Foto de Pedro Saraiva

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Poemas da adolescência 11

Não pode a nobre solidão ocupar o vazio da escuridão que cá dentro tenho, vasto senão de me dizer que quero o que não tenho, tocando-me no que em devassa sonho, tamanha pequenez, senhora dos seus actos. Responderei ao que me acusam sem qualquer engenho, e ora sentindo uma estranha acidez que me corrói o âmago, me enruga e esbranquece, serei sempre os meus próprios actos. E quando a espada me picar e me absolver a dor que ela deixar ficar, saberei que serei eu quem se penitencia em solidão. Para que tu não conheças os meus actos, para que tu não conheças os meus pensamentos, para que nunca me conheças, eterno solitário, autodestrutivo deus. Para que o sol se manifeste, muitos outros nasçam, e nada se extinga em definitivo adeus. E quem nos ensinou a respirar o mesmo ar?, se somos todos uma canção que o silêncio pariu. Ah! Que muitos outros sóis como eu e tu nasçam do vazio. Que muitas almas cantem um vento vadio, música e silêncio que te quebrou. Mas o som será sempre o mesmo, filho do ar, e eu, filho deles, senhor dos meus próprios actos.

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sábado, julho 16, 2005

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sexta-feira, julho 15, 2005

"Num filme, o que importa não é a realidade, mas o que dela possa extrair a imaginação" (Charlie Chaplin)

Por acaso alguém viu o filme "Guerra dos Mundos", último do Spielberg? Estava à espera de mais contexto sci-fi. Trata-se de uma viagem alucinante mais uma vez centrada no núcleo familiar, que, na sofreguidão da salvação sem baixas, se esgatanha por sobreviver à apocalíptica ameaça alienígena. Estava à espera de mais qualquer coisa, mas não me arrependo. Gosto muito do King e do Quarteto, mas este é o tipo de filme imperdível na grande tela. Efeitos e realização primorosos. Saltei da cadeira por uma vez, o que é raro. Achei os bicharocos e as naves um tanto disparatados, mas tudo bem. Está à imagem anacrónica da histórica aventura de H.G. Wells. O Spielberg é o maior e estará, mais do que qualquer realizador até hoje nascido, durante muitos anos no imaginário colectivo de muita gente de todos os quadrantes geográficos e línguas. Digam o que disserem. Há outros. Muito bons. Se calhar, melhores, mas o Spielberg é como a Coca-Cola. Boa e igual para todos. Ambos são produtos democráticos. Cinema espectáculo americano que não me choca.

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Poemas da adolescência 10

Caneta sem Tinta

A mão dormente, o rito atónito, pasmado, Lohengrin.
A suavidade da tua pele, gentil.
O teu coração a pulsar dentro de mim.
A nossa solidão atroz, mas lembrada da alegria
de quando nunca estivemos sós
num dia de magia.
A caneta azul que sucumbe aos rios que te escrevi...
escrevia.
Serpenteados.
A tinta que fecunda o papel branco
onde te vi.
A tinta...
A caneta que não mais te escreverá.

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quarta-feira, julho 13, 2005

Só por curiosidade, mas este canito chama-se mesmo Eusébio

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O instinto de Eusébio

Passavam poucos minutos das nove e Jeremias dirigia-se, como habitualmente, ao “Tony das Fintas”, café da esquina. Era hora da bica, injecção final de cafeína. Jeremias trazia vestido o fato de treino novo que a avó Palmira lhe oferecera, indumentária de fins de semana e saídas nocturnas corriqueiras. Ao botar o pé no empedrado, à saída do prédio, Jeremias sentiu o passo amortecido. Sem olhar, que se o tivesse feito, tal não aconteceria, apercebe-se do que acaba de pisar, desata a praguejar e socorre-se de um canteiro próximo para limpar a sola do sapato desafortunado. Enquanto procede à dita operação, levanta a cabeça, olha em redor, e procura o responsável pela obra que, ainda fumegante, indiciava um tempo recente. Nesse instante, os olhos de Jeremias põem-se num cão preso pela trela a um banco de jardim onde, sentados, dois homens de meia-idade discutiam os casos da jornada futebolística. Jeremias renitiu quanto a uma abordagem agressiva. Afinal, que sabia o cão de civismo? Por isso, a sua atenção voltou-se para os dois homens, que parolavam distraidamente. Ambos suspeitos, um deles era responsável pela infâmia inocente do animal. Jeremias dirigiu-se aos homens contendo o seu desagrado e lançou:
- O bicho aliviou-se junto àquela porta?
- O bicho, salvo seja: Eusébio - respondeu com ironia o assumido dono.
- O bicho cagou junto à minha porta! Isto parece a Palestina, está tudo minado, não pode ser! – disse Jeremias, perdendo de vez a paciência.
A discussão prosseguiu num crescendo de entoação até atingir um paroxismo de animosidade que impossibilitava a conversa construtiva. Quando Jeremias, depois de insultada a sua maternidade, se aproxima do homem para o atingir com a sua direita, Eusébio, despertado o instinto fiel e protector, lança-se ferozmente às calças de fato de treino novas, como se não houvesse mundo para além delas. Abocanhou-as até as deixar em farripas e, rábido, ia provando os tornozelos de Jeremias sem palavra do dono, que observava. Jeremias esbracejava tentando manter o equilíbrio, livrar-se do cão, pontapeá-lo sem ortodoxia, mas as calças, essas, já não tinham salvação possível.

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terça-feira, julho 12, 2005

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Poemas da adolescência 9

Saber que eu passava uma vida inteira beijando-te numa noite

Saber que tu estavas traçada na palma da minha mão

Saber que as distâncias servem para que tenhamos mais tempo juntos

Saber que sempre nos conhecemos para não termos de nos conhecer

Saber que a palavra me é posta nos lábios pelos teus

Saber que os teus gestos ditam a palavra que escrevo no papel

Saber que se me pedisses sete perdões eu te daria setenta vezes sete

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segunda-feira, julho 11, 2005

Tudo é possível quando um homem tem nas mãos o sol

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sexta-feira, julho 08, 2005

Diário de Bordo II - Terrorismo e Humanismo no mesmo dia

Na última semana tem-me sido difícil publicar numa base diária, como até aqui tenho feito. Por hoje pretendo apenas deixar duas notas. Uma - a primeira - é a indignação que partilho com, creio, todos aqueles que desejam viver em harmonia, a propósito dos incidentes ocorridos ontem em Londres. Uma vez que nada acrescentarei à blogosfera a respeito dos atentados bombistas da Al-Qaeda, até porque ontem fui até ao Porto de carro, tendo apenas sido informado do sucedido à chegada, já ao final do dia, convido o estimado leitor a deitar o olho na Rua da Judiaria, de Nuno Guerreiro, onde se encontra também a curiosíssima transcrição de uma entrevista realizada por Paulo Moura, jornalista do Público, a Omar Bakri Mohammed, um sheik que se autoproclamava “líder do Londonistão” e “Teórico da Al-Qaeda na Europa”. Na entrevista, publicada a 18 de Abril de 2004, Omar Bakri falava da “inevitabilidade” de grandes atentados terroristas em Londres, dos grupos que os preparavam, e do grande propósito apocalíptico destes fanáticos dementes, alienados doidivanas.
A segunda nota é dedicada ao senhor Pedro Lima, que tive o prazer de conhecer ontem. Foi o primeiro surfista português; primeiro português no Calypso, conhecida embarcação do comandante Jacques Cousteau, com quem privou e de quem recebeu o famoso barrete vermelho, que ainda hoje guarda; precursor da fotografia subaquática e co-fundador, juntamente com outros ilustres nomes, do Hot Club, como todos saberão, casa do jazz em português, por excelência. Dedicar-lhe-ia um naco saboroso de prosa, que escreveria por prazer, mas vou guardar a verbosidade para a compulsão inevitável do trabalho, inefável obrigatoriedade. O Pedro tem 74 anos mas um sorriso livre e adolescente de quem ama viver. Como terá dito Camus, a vida é um fenómeno absurdo. O Pedro retrospectivou comigo três quartos de século recheados. Marcámos encontro com a vida, ao fim da tempestade, a vogar à deriva, numa longínqua cidade de paz prometida. Mas cuidado em mar encrespado, que é frágil o pano que veste as velas do desengano que nos empurra em novo oceano. O estóico Pedro quis conhecer-se primeiro, vencer os seus medos e tornou-se melhor; envelhece bem, como poucos ou nenhum terei visto.

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quinta-feira, julho 07, 2005

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Serei velho?

O rosto do homem olhando para o mar era velho e ríspido. Sulcos secos de carácter como rios passados abriam caminho junto aos olhos rasgados e escuros, por vezes castanhos, que muito já haviam visto. Duas rugas profundas aos cantos da boca guardavam-na como dois parêntesis curvos sussurram uma palavra surda. A tez morena, curtida pelo sol, escondia-se apenas por detrás da barba rala que o velho cofiava viciosamente. Em evidência, um nariz adunco e protuberante; uma fronte saliente e pensadora; as maçãs do rosto, até onde se estendiam afluentes, os mesmos sulcos secos que dirigiam como margens as lágrimas raras que ele chorava dolorosamente. Serei velho. Sou-o sempre que olho o mar.

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terça-feira, julho 05, 2005

"Ouro Azul", Né Barros

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Poemas da adolescência 8

Mel. Ouro. Azul.

Dançámos nas colinas,
Saltámos a fogueira,
Enquanto nas oficinas
O fogo já não se ateia.
Fizemo-nos irmãos,
Pudemos primeiro, quisemos depois,
E quando demos as mãos
Deixámos de ser dois.
Olhámos para a lua
Num mesmo esgar
E pudemos fazê-lo
Com o mundo a nos distanciar.

Provemos o mel
Brinquemos com o ouro
Banhemo-nos em azul

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segunda-feira, julho 04, 2005

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Sou metafísico (Jeremias Cabrita da Silva)

Sou mulher que morreu ao pensar num homem.
Sou a mulher que se apaixonou por esse homem, que era eu próprio.

Jeremias Cabrita da Silva

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sexta-feira, julho 01, 2005

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Para o trabalho que gostamos levantamo-nos cedo e fazemo-lo com alegria (William Shakespeare)

in "António e Cleópatra"

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Hoje não chego a este ponto porque só tomo banho amanhã

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Todos vós, que amais o trabalho desenfreado (...), o vosso labor é maldição e desejo de esquecerdes quem sois (F. Nietzsche)

in "Assim falava Zaratustra"

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