quinta-feira, março 30, 2006

Tamiflu: a galinha dos ovos de ouro de Rumsfeld

Circula pelas caixas de correio electónico uma mensagem deveras intrigante que coloca num triângulo não amoroso mas bastante rentável o Tamiflu, Donald Rumsfeld (Secretário de Estado da Defesa norte-americano) e a conspiração sob a alimentação do medo pelo desconhecido, no caso, por uma estranha doença ou vírus. Segundo reza o dito mail, a informação foi extraída do editorial da revista DSalud, uma das mais conceituadas revistas mundiais na área da saúde. Ali se comunica que o vírus da gripe das aves foi descoberto há nove anos no Vietname; que, desde então, morreram apenas 100 pessoas em todo o mundo, e que foram os americanos quem propagandeou a eficácia do Tamiflu (antiviral humano) como preventivo – fármaco de cujos cientistas independentes dizem apenas aliviar alguns sintomas da gripe comum, sendo a sua eficácia questionada por grande parte da comunidade científica. Segundo o texto, «perante um suposto vírus mutante como o H5N1, o Tamiflu apenas aliviará alguns sintomas», sendo que, «até ao momento, a gripe das aves afecta apenas as aves». Surpreendentemente, a bomba: Quem comercializa o Tamiflu? Os laboratórios Roche. A quem comprou a Roche, em 1996, a patente do Tamiflu? À Gilead. O presidente da Gilead e accionista maioritário: Donald Rumsfeld. Sabendo-se que o principal ingrediente do Tamiflu é o anis estrelado, aprofunda-se um pouco a investigação e descobre-se que a empresa detentora de 90% da produção da árvore donde o anis resulta é a Roche. Ora, as vendas do Tamiflu passaram de 254 milhões de dólares, em 2004, para mais de mil milhões em 2005. Quantos mais milhões poderá a Roche ganhar nos próximos meses se continuar o contrabando institucionalizado do medo?
Resumindo, os amigos de Bush decidem que o Tamiflu é a solução para uma pandemia que ainda não ocorreu e que causou 100 mortos em nove anos - criam um fármaco que não cura sequer a gripe comum, e um vírus que não afecta o ser humano em condições normais. Rumsfeld vende a patente do Tamiflu à Roche, esta paga-lhe uma verdadeira fortuna, adquire 90% da produção do anis estrelado, e os governos de todo o mundo, terrivelmente ameaçados pela pandemia, compram à Roche quantidades industriais do produto. Somos peões nas mãos destes animais.

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Escrever é, entre outras coisas, um pretexto para conhecer

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Ah, carapaus de corrida!

O Caderno de Corda faz hoje uma recomendação: a visita ao sítio da Stick Face Runner, um ciber-espaço onde se divulgam criações portuguesas em diversas áreas, dando importância ao artista e à sua obra. A ideia partiu da equipa que fundara a Raio X, agência de publicidade e marketing sediada em Santarém, cujo projecto passa também pela renovação das tradicionais formas de comunicação. Através da loja online Stick Face Runner podem adquirir-se produtos originais e conhecer novos criadores nacionais, sendo uma constante a preocupação ambiental e social. Mais iniciativas ivovadoras e criativas assim houvessem. O País precisa.

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quarta-feira, março 29, 2006

O papão não mete medo; mete a mão...

Foto ASF
Um jogo atípico. Falhanços defensivos e ofensivos clamorosos, e um empate a zero num jogo aberto entre duas equipas com ganas de ganhar. O headset não trouxe justiça no tocante à jogada na imagem. Só não viu quem não quis ver. Parece-me que, mesmo que o Abel Xavier jogasse no Barça, isto não dava em penalty na noite de ontem. Apesar disso, Nossa Senhora da Luz acudiu-nos. Tivemos a estrelinha connosco. O endiabrado Miccoli arrasa. Não nos podemos dar por descontentes. O importante era não sofrer golos. Está prometido, na véspera da segunda mão, o Poema Escarlate. Para dar sorte, como tem dado.

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terça-feira, março 28, 2006

Poema Rubro

Quando é um dia assim de futebol, os astros brilham na terra,
os corações dilatam-se e a invernia faz-se pressa de chegar a casa,
ao estádio, ao café mais próximo, à esplanada coberta sobrelotada do centro comercial.
O jogo começará a zero. De novo possíveis todos os sonhos,
que, Gloriosos, uma massa de impossíveis sonhados em fé torna reais.
A bola é redonda na volúpia de chutar à baliza num palco mundial,
no recreio da escola, na marquise da parte traseira da casa, no hall.
No momento do golo, sentirá o Simão o que sentiu em menino:
um imenso e feliz desatino, ao dar aos pés astúcias de mão.
Menino, sentiu-se o craque tão jogador de estádio cheio...,
bailando, feérico na camisola brilhante, um hino
de música do corpo em forma sacra aos olhos da multidão imaginária.
Manuel, resgata o futebol à condição primária de brincadeira.
Tu, rubro de berço, terás lido tantas vezes “olhem para o puto”, à entrada no túnel da Luz.
O futebol é simples: quem tem a bola ataca; quem não tem defende.
Barcelona adormece serena num excesso claro de confiança, paciente.
Nuno, espera-se de ti um rasgo de clarividência certeira fulminante!
Disse ontem, para o duelo ibérico, em conferência, Koeman desconcertante:
«Eles também só têm duas pernas.» E duas não são demais.
Se tu, Nuno, não acertas, teremos Mantorras, que tem três pernas ou mais!

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segunda-feira, março 27, 2006

Um ano de Caderno de Corda. Parabéns

Quando iniciei a empreitada do Caderno de Corda, tinha dúvidas. Tinha dúvidas sobre se estaria à altura daquilo que criticamente gostaria de fazer. Dúvidas sobre se conseguiria manter uma publicação regular e original durante um período largo de tempo. Hoje, posso dizer com segurança que tenho mais dúvidas do que as que inicialmente tinha.

Escrevia, num post de 9 de Novembro de 2005, que «ao Caderno de Corda não interessa o individualismo opinativo, a recriação noticiosa, a política, os fait divers, o quotidiano esbatido e mastigado como pastilha elástica vezes sem conta, sem nutrir, enganando o estômago. Não interessa aquilo que já foi dito, a reposição da indignação dos outros nem a ruminagem desencontrada do primordial conhecimento: o de nós próprios».

Obrigado a todos os leitores por serem, em última análise, a razão, se não dos escritos, da sua publicação. Obrigado também àqueles que, através da blogosfera, assinalaram este dia importante para o Caderno de Corda, e assim o comemoraram, para muita satisfação minha. São eles o (excelente professor) Luís Carmelo, no seu genial Miniscente; o Rui Semblano, no interessantíssimo A Sombra, e o amigo Arnaldo Lemos, no Página 23. Obrigado ainda ao Suspirador, da Teoria da Suspiração, por me ter prontamente ensinado a publicar vídeos no blogue.

Apetece-me repetir a punch line daquele post de 9 de Novembro passado, dirigindo uma frase retirada do poema "Setentrional", de Cesário Verde, aos amigos com quem jantei:


"(...) Quando ao nascer da aurora, unidos ambos
Num amor grande como um mar sem praias (...)"

Cesário Verde

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1.º Aniversário no Dia Mundial do Teatro

O Caderno de Corda cumpre hoje o primeiro ano de publicação (quase, quase) diária ininterrupta. Há quase exactamente um ano atrás, às 19h25, publicava o primeiro post: o poema "1", primeiro de um corpo de 27, que titulei depois, mais ou menos pretensiosamente, "Lohengrin, Livro Primeiro".
Comemora-se também a 27 de Março o Dia Mundial do Teatro. Aproveito para, assim como se assinalou o 1.º Aniversário do Caderno de Corda à mesa, entre amigos, sugerir a celebração do Teatro à mesa, no Pano de Boca, restaurante inaugurado recentemente no Teatro Aberto. Diz-se que o espaço, de uma beleza cénica invulgar, é de utilidade extrema para aqueles que se apressam em ansiedades gastas ao volante, depois de um dia de trabalho, sem tempo para petiscar o que seja, antes de a peça começar, pensando mais num bitoque do que em arte. Fica a sugestão e a efeméride.

Foto do... Johnny?, ou do Tomás? Bem, o copo era do Johnny, certamente: tango com cerveja
Errata: onde se lê tango dever-se-ia ler groselha, não é assim, Johnny?
Errata à errata: tango é, pelos vistos, o mesmo que groselha com cerveja. As coisas que se aprendem com um blog...

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Anno I - O Jantar


Éramos sete à mesa. O frango, como sempre n' A Valenciana, delicioso. Sem correspondência com a foto (à excepção de um), Gustavo, Pinto, João Carlos, Tomás, César, Pimenta e eu. Chegou mais tarde o Bruno, já no Irish do Cais do Sodré. Não se festejou de todo o primeiro ano do Caderno de Corda. Cantou-se um hino à amizade. Seja um blogue instrumento possível de pretexto para isso!

O Sérgio Godinho lembrar-se-ia de dizer, simplesmente, no final de um concerto memorável, depois de “Lisboa que amanhece”, cantada de cor em uníssono arrepiante por toda a plateia do Ritz Clube:

- Obrigado. Boa noite. Foi muito bom. Até amanhã!

É verdade que já fomos tão longe em glórias e terrores e aventuras… De facto, Lisboa amanhece, pela hora a que escrevo. A fachada do prédio em frente torna-se azulada não tarda.

Aquele abraço aos presentes e, muito importante, àqueles que não puderam comparecer, mas que gostariam de tê-lo feito. Foi muito bom. Até já.

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sexta-feira, março 24, 2006

Anno I - O Jantar (convocatória)

Um amigo eterno convocou, na caixa de comentário do post de 16 de Março “Anno I – Exortação aos estimados leitores”, um jantar cujo pretexto seria a celebração do primeiro aniversário (27 de Março) do Caderno de Corda. Pensei, sinceramente, ser impossível organizá-lo para os leitores de um blogue (se bem que alguns sejam amigos de longa data), através do próprio blogue, e que a adesão não seria a desejável. Pensei que algo acabaria por falhar, por entre canais comunicantes mais ou menos frágeis, mais ou menos eficazes. “A pedido de várias famílias” – como disse o Pinto tantas vezes em palco sempre que a banda, com a plateia conquistada, tocou discos pedidos -, atirei-me de cabeça para a tal ideia do jantar, que terá a particularidade de ser aberto, ou seja, de participação totalmente livre, não se excluindo ninguém. O jantar terá lugar no restaurante-churrasqueira A Valenciana (melhor casa de churrasco de Lisboa), em Campolide, no domingo, 26 de Março, pelas 20 horas. São bem vindos os portadores de instrumentos musicais (como também alguém sugeriu) e, a pedido do autor do blogue, que não tem uma máquina fotográfica digital, o referido aparelho sugador de almas, para que se possa publicar para a posteridade uma fotografia de conjunto no Caderno de Corda. Quanto a esta matéria, já fiz a minha parte. Façam a vossa. Ah!, e tragam um amigo também…
n.b. - Estão à distância de um clique todas as informações necessárias respeitantes ao restaurante A Valenciana. Para os menos lestos nestas coisas da net, cliquem no nome do restaurante.

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quinta-feira, março 23, 2006

Atente-se ao post de quinta-feira, 16 de Março, "Anno I - Exortação aos estimados leitores"

Hemiciclo e A Sombra

O recém-nascido Hemiciclo é o mais jovem blogue adicionado à lista de linques do Caderno de Corda. «Ditos por não ditos, facadinhas nas costas, declarações absurdas e todas as tricas da política à portuguesa.» Pelo pós-título, promete. Durante a semana, registe-se também a inclusão de um outro blogue (excelente) no hipertexto vazante do Caderno: A Sombra. Porque o seu autor não vai, felizmente, ficar calado...

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quarta-feira, março 22, 2006

Cartas de Amor Ridículas 5

De novo junto ao Tejo,
o mesmo mote se repete.
Tu, longe, desinteressada,
mostrando-me não apenas
a distância que nos separa,
que me impede, me proíbe
de abrir o coração,
soltar o vendaval
que tenho no peito,
de voar junto às nuvens
de mão dada contigo.
E tudo lá em baixo seria tão pequeno
e insignificantemente perfeito.
Sedento, mas como quem não se rende de qualquer jeito,
quero ser par, aprender e ensinar,
ser mais do que amigo, pseudo-poeta,
lírico, mero conhecido.
Já lá devia ir o tempo do sentimento descartável.
Já lá vai a carne e o osso.
Foi-se definitivamente o acessório.
Amorável amoroso só por ti.
Mesmo que mal amado.
Desarmas-me triste, aqui frio, perigoso.
Entrincheirados, o tiroteio mudo,
entre nós um fosso.
Onde estás? Liga-me.
Vou aí ter agora.
Vamos ouvir música, passear,
conversar durante horas;
apanhar o sol com a mão,
agarrá-lo e jogar na praia com ele, dentro de água;
apagá-lo num mar imenso
onde se evapora a dimensão
da nossa entrincheirada mágoa.
Ah! Seríamos só alma e dois corpos bons e possíveis.
Ouvíamos o Palma abraçados,
cantávamos à viola os hits de que mais gostamos,
fazia-te uns versos incríveis e, depois,
novamente abraçados, amávamos.
Porque já lá vai o tempo de o amor ser dispensável;
já lá vai a solidão e o ódio.
Foi-se definitivamente o acessório.
Estivemos num promontório
arquitectado num penhasco elevado sobre o mar.
E sabes que tenho vertigens,
atracção involuntária pelo abismo,
desequilíbrio sem vara.
Sem ti sou fuligem,
gravilha projectada e pisada,
pouco transtornante,
na berma da estrada.
Pensas tu: "Que falta de amor-próprio."
Não me interessa. Pouco me importa o meu amor
se não és tu.
Onde estará ele? Andará bem de saúde?
Abro a porta de um armário e espreito.
Nunca vejo o meu amor,
e tu és, assim,
o que me torna próprio do amor de mim.
És a luz que se acende no meu quarto escuro.
És, do que me falta, tudo.
E, já te disse, é neste tempo
em que sou pouco mais do que inútil,
em que te procuro, que quase te beijo,
que me cultivo nesta folha de papel;
me lanço numa garrafa ao mar,
melhor dizendo, ao Tejo.
Abro a porta e espreito...
Um quarto de silêncio. Vazio. Breu. É o que vejo.
Seria perfeito...
ouvirmos o Palma abraçados,
cantarmos à viola os hits de que mais gostamos,
fazer-te versos incríveis e, depois,
novamente abraçados, amarmos.

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terça-feira, março 21, 2006

Poesia do dia no dia da poesia

A alma do poeta
não a entende ninguém,
seja no dia da floresta,
ou no da poesia também.

Ele é o príncipe das nuvens,
com asas de gigante
que lhe não são úteis
para caminhar em passo errante.

O poema nasce não das letras
espetadas como pregos no papel,
mas da alvura de folhas abertas
esperando do poeta o branco fel.

O poeta desfoca o olhar
e embebeda-se a pensar,
em total desregramento.
Faz-se vendo, faz-se lendo,
num imenso mas sensato bramido
na intemperança dos sentidos.

A solidão do sonho e da poesia
sacode-nos no pesadelo da nossa desolação.
O que um poeta diz outro não diria.
Uns acham na poesia a confissão...

Perguntava alguém a Deus, que fez de nós mortais,
porque nos deu Ele a sede de eternidade de que é feito o só poeta.
Responde Lorca que «todas as coisas têm o seu mistério,
e a poesia é o mistério de todas as coisas».

Falando claro e falando sério,
a poesia pode até ser fruto do absurdo
e não obedecer a base lógica,
mas é antes de mais um grito mudo
quando escrita pungente e trágica
na solidão ignota de todas as coisas.

A poesia é heteronímica
- esconderijo e amplificador simultâneo.
A poesia é mágica
e faz surgir o invisível subcutâneo,
como um coelho puxado da cartola.
É o transbordamento do espontâneo,
que redondo nas mãos do poeta rebola,
reprocessado em posterior tranquilidade.

A poesia? É muito mais do que isto.

A poesia é nexo dos anjos o sexo,
de mistério um processo entre poeta e leitor.

Uma coisa tem de ser a poesia: amor.

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Por trás de um Arbusto


«Na verdade, nunca mais se falou de como se afundou o navio que legitimou a tomada de Cuba aos espanhóis, nem da entrada dos EUA na II Grande Guerra, então justificada pela inesperada (?!) invasão do espaço aéreo norte-americano, tomado por um enorme enxame de kamikazes que, depois de atravessar, incógnito (?!), meio mundo, fez Pearl Harbor em fanicos. Além disso, havia que fazer-se algo bem mediático, para não restarem dúvidas à desfavorável opinião pública americana. A técnica, semi-pírrica, é já antiga. E os americanos continuam a tomar-lhe o gosto como se pela primeira vez, em todas as primeiras vezes, porque a memória é, tarde ou cedo, apagada ou, ao jeito orwelliano, reescrita. Desde há milhares de anos de estratégia militar que certas unidades são sacrificadas em função de finalidades outras. Não convém, no entanto, que elas saibam que vão ser sacrificadas...»
Escrevia mais ou menos isto numa caixa de comentário do blogue A Sombra. Mas, mais importante, há algo que queria partilhar convosco. Com tempo, dêem uma olhada: http://pirats.ttd.free.fr/ReOpen911/PainfulDeceptions_french.htm

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"Grandma", de Melissa Garcia Montiel

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segunda-feira, março 20, 2006

Devagar se vai ao longe

Passei a tarde e parte da noite com a única avó viva que tenho. Fomos passear lentamente, muito lentamente, quase como que em câmara lenta, vendo o mundo frenético passar lá fora, de dentro dos nossos olhos, onde a memória de dias assim repousa de mansinho eternamente. Parece-me justificação mais do que plausível para nada mais ter publicado hoje, não vos parece?

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domingo, março 19, 2006

de Jack Hamm

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sábado, março 18, 2006

Treasures Inside

It's time to dance,
time to kiss
and it's time to long
the ones you miss.

And it's cold outside
from across the walls;
I don't need to hide
or resent my faults.

- bridge -
I saw pictures inside,
I saw people aligned,
I saw people not living
just waiting to die;

I saw pictures inside,
I saw people alive
however not living
believin' in a lie.

I saw people alive...
waiting to die...
knowing not why...

- refrão -
And it's far from what she sees
not knowing A from B;
sung desert, blown mind
I saw treasures inside.

P.S. - Mano Pinto, embora em inglês, esta é para ti, depois do teu pedido. A música já está feita. Falta gravar com acústicas e percussão ligeira. Podias "emprestar" A Voz...

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Não há arauto mais perfeito da alegria do que o silêncio. Eu sentir-me-ia muito pouco feliz se me fosse possível dizer a que ponto o sou (Shakespeare)

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sexta-feira, março 17, 2006

Antropomorfos, a figura humana. Arte pós-paleolítica (Península Ibérica)

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quinta-feira, março 16, 2006

Photopoiesis 3 - Uma espécie de vampiro

Podes jurar a verdade,
o bem comum apregoar;
encheres na boca a liberdade,
e o peito pleno de ar.

Podes até dizer que vais pensar
em quem já desiludiste,
para novamente mergulhares
na mentira que urdiste.

O silêncio não te vai calar
nem o estrondo de um clamor
que te faça sossegar
o desejo de terror.

O ruído é a tua arma.
Nos canhões todo o fragor;
na cidade, em todas as praças,
o teu desejo de temor.

Já não se inventam melodias
que cantem fresco o amor;
criam-se da arte coisas frias
que nos refundam de rancor.

A ti!, óbvio impostor!,
nascem crianças que logo escutam com fervor;
crescem implodidas e mansas, e a vida é um passatempo;
são heróis iconográficos cedo, vestem, mentem, fardas;
são a tua imensa corte de burlesco.
E tu, aposto nunca teres por elas vertido sincero lamento
quando, antes de fartas, jazem mortas, as crianças,
no teu quintal.
Tu, creio que estás como se em coma,
tomado pela espiral de Sodoma;
inebriado na redoma de Gomorra.
Tu, vampiro, estás também como quem vivo, morra.

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Anno I - Exortação aos estimados leitores

O Caderno de Corda está, não tarda, a celebrar o primeiro ano de vida de publicação ininterrupta. Para a data (27 de Março), nada está previsto ser feito até ao momento. Serve este post para solicitar aos estimados leitores - assíduos e ocasionais - a participação, sugerindo, por exemplo, o que, nesse dia, gostariam de ver publicado, sendo certo que tudo é possível, desde que imaginável. Aceitam-se sugestões e até textos originais. Libertem-se e libertem também o Caderno de Corda do umbiguismo poético do Davi Reis, de que está refém. A caixa de comentários é toda vossa. Até à data referida não há impossíveis.

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A Mais Vil de Todas as Necessidades (Fernando Pessoa)

A mais vil de todas as necessidades - a da confidência, a da confissão. É a necessidade da alma de ser exterior. Confessa, sim; mas confessa o que não sentes. Livra a tua alma, sim, do peso dos teus segredos, dizendo-os; mas ainda bem que os segredos que digas, nunca os tenhas tido. Mente a ti próprio antes de dizeres essa verdade. Exprimir é sempre errar. Sê consciente: exprimir seja, para ti, mentir.

Fernando Pessoa, in "Livro do Desassossego"

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quarta-feira, março 15, 2006

The Long and Winding Road

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Cartas de Amor Ridículas 4

À minha frente o Tejo
e um quadro nocturno,
a lua e um espelho ondulante de prata.
Luzes ao fundo e o mote está dado.
Mãos vazias, lágrimas que rejeitei,
que se foram como se eu não quisesse.
Rasgam as luzes as lágrimas rejeitadas,
choradas por tudo e por nada.
Somos homens e mulheres para a eternidade
breve deste corpo.
Em essência, somos um, o mesmo.
Depois de fundidas nossas almas,
será tão difícil caminharmos juntos,
percorrermos a mesma estrada?

(...)

E se tudo o que quisemos e pensámos
já não é rico nem fecundo,
seremos nada,
fugindo do obstáculo que somos para connosco;
seremos para sempre ímpares na mesma estrada,
agora bifurcada.
O destino é um programa que nos sintoniza
se não nos encontrarmos,
se vivermos apenas segundo os próprios interesses.
Muitas são as oportunidades para nos entregarmos
na mais profunda solidão.
É eterna a minha mão,
mas uma vez negada tão cabalmente,
não me resta sequer nestas palavras inspiração.
E que dura a tarefa de escrever para não estar só;
para te roubar um pouco do tempo que também perdi...
Tento sublimar e não consigo.
A água segue o caminho de menor resistência, menor oposição,
e eu, fogo, não a posso conduzir nem perto do meu moinho.
Conduzo nada sequer. Sou inútil sozinho.
Estou abafado e sem ar, incapacitado de ser como bem quiser,
de amar o que vejo, saudar a manhã.
Mas sei que posso ser tudo o que desejas...
talvez amanhã.
Talvez nalgum dia enevoado eu apareça.
Talvez nalgum dia soalheiro tu desse pedestal desças.
Talvez seja eu quem então franza o sobrolho.
Talvez o Verão me traga a velha dor no joelho.
Mas não é o joelho que tenho entalado na garganta,
ou que me obstrui o peito.
Seja eu o sincero, seja eu bom,
seja eu verdadeiro, profeta do idílico impossível e perfeito,
tão atraente quanto suspeito.
Seja eu sem receio.
Sou mais que o momento e a memória;
eu sou dias inteiros.
n.b. - Nem toda a poesia pode ser luminosa e inspirada. A Carta de Amor Ridícula 4 é disso exemplo. Fica, no entanto, o registo. Melhores poemas virão.

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terça-feira, março 14, 2006

"New Links", Maxim Zuev (Art. Lebedev Studio Posters)

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Post Matinal

Este post serve apenas para assinalar a entrada recente de um conjunto de blogues e sítios no universo finito de linques (apeteceu-me escrever assim) do Caderno de Corda. São eles: o blogue e o site da banda A NAIFA, composta por Luís Varatojo, João Aguardela e Maria Antónia Mendes; Mais Cidade Que Sexo; Mundo Pessoa (blogue da Casa Fernando Pessoa com notícias de poesia e literatura); Página 23 e, a pedido, rbS. Boas leituras e escrituras.

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segunda-feira, março 13, 2006

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domingo, março 12, 2006

Singularidade de uma rapariga louca, só, desiludida

Pelas brumas se atirava com o corpo às chamas,
às luzes, às cinzas, ao dia.
Cedia e fundia-se, fendida,
como se dormisse um sorriso pálido
após todos os desamores,
fixando os olhos, abertos, de alabastro,
azuis de uma baía de golfinhos e conchas e dores,
búzios, e o sopro inevitável de um sorriso
inconsciente, maquinal, incauto, ditoso,
por não pensar o marejar fusiforme,
avesso à buzina estrepitosa e urbana
da revelação tensa, enraivecida, amarga,
de estar sempre só
na ficção da sua singularidade.

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sexta-feira, março 10, 2006

Imperdível

Agendado para 2 de Maio próximo está o lançamento do novo álbum dos Pearl Jam, simplesmente intitulado "Pearl Jam", cujo novo single "World Wide Suicide" se encontra disponível para download no site do grupo. Segue, quase em primeira mão, não fosse o facto de me ter deparado com esta preciosíssima informação no Página 23, a letra de "World Wide Suicide", bem como a tracking list:

WORLDWIDE SUICIDE
(letra e música: Eddie Vedder)
I felt the earth on Monday. It moved beneath my feet.
In the form of a morning paper. Laid out for me to see.
Saw his face in a corner picture. I recognized the name.
Could not stop staring at the. Face I'd never see again.
It's a shame to awake in a world of pain
What does it mean when a war has taken over
It's the same everyday in a hell manmade
What can be saved, and who will be left to hold her?
The whole world...World over.
It's a worldwide suicide.
Medals on a wooden mantle. Next to a handsome face.
That the president took for granted.
Writing checks that others pay.
And in all the madness. Thought becomes numb and naive.
So much to talk about. Nothing for to say.
It's the same everyday and the wave won't break
Tell you to pray, while the devils on their shoulder
Laying claim to the take that our soldiers save
Does not equate, and the truth's already out there
The whole world,... World over.
It's a worldwide suicide.
The whole world,... World over.
It's a worldwide suicide.
Looking in the eyes of the fallen
You got to know there's another, another, another, another
Another way
It's a shame to awake in a world of pain
What does it mean when a war has taken over
It's the same everyday and the wave won't break
Tell you to pray, while the devils on their shoulder
The whole world,... World over.
It's a worldwide suicide.
The whole world,... World over.
It's a worldwide suicide.
- * -
Tracklisting de "Pearl Jam":
1- Life Wasted
2 - World Wide Suicide
3 - Comatose
4 - Severed Hand
5 - Marker In The Sand
6 - Parachutes
7 - Unemployable
8 - Big Wave
9 - Gone
10 - Wasted Reprise
11 - Army Reserve
12 - Come Back
13 - Inside Job

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quinta-feira, março 09, 2006

"Composition VII", Wassily Kandinsky, 1913

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Manilha

Dizia que só juntos teriam o melhor de dois mundos,
nas alegrias, nos melindres e nos mistérios
que a lealdade trouxesse em farripas
como brindes deslindados,
coligados num só desidério.
Dizia que o amor, como um ministério,
se geria contínuo, qual conta sem fundo,
e a confiança, um cheque careca,
herança de um homem sortudo
que herdasse sem perda
de um parente distante defunto.
Juntos teriam o melhor de dois mundos
e criam na morte o enlace que amor juraria com juros.

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Já reflecti: venha outra vez o Villareal. Só depois Lyon ou Arsenal

quarta-feira, março 08, 2006

Benfica até debaixo de água

Memorial o dia de hoje para os benfiquistas. 0-2, golaços de Simão e Miccoli. Pelo andar da carruagem, começo a pensar, por superstição, que terei de escrever um poema rubro antes de cada embate europeu. Está, assim, prometido. Nem me digno escrever hoje sobre a partida. O momento é por demais solene.

Como dizia, em Anfield não caminhámos sós. Assim os ingleses cantaram para nós, mas em português se sobrepuseram muitas numa só voz.

Uma palavra de apreço pelo grande desportivismo dos adeptos do Liverpool, que apoiaram honrada e incansavelmente a sua equipa, aplaudindo no fim os jogadores do Benfica e a nossa massa adepta.

A word of consideration for the great sportsmanship revealed by the Liverpool supporters, who backed honourably and untiringly their team throughout the game, applauding, in the end, the Benfica players and supporters.

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Poema Encarnado

E depois de vencida uma primeira batalha,
mostrámos ser campeões da mesma igualha,
depois do fulgor inspirado, estro futebolístico
da nossa vontade, nosso sonho tão místico.
Vencida não está certamente ainda a guerra,
mas depois de Liverpool nenhuma porta se encerra.
Numa caminhada já brilhante, unidos seremos tão fortes
que nem em Anfield caminhamos sós; seremos muitos consortes
sofrendo, em 90 minutos apenas, a esperança feita centelha
imortal, certeira, encarnada ou vermelha.
Em Anfield não caminharemos sós
e, se acaso assim os ingleses cantarem para nós,
em português se sobreporão muitas numa só voz.

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terça-feira, março 07, 2006

A poesia pode até ser menos trabalhosa do que a prosa ou a glosa. Mas ter prosa em dia, esparsa, estonteante, díspar, fugidia, nada proveitosa ou alucinada poesia, uma delas seria.

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segunda-feira, março 06, 2006

"A Inspiração do Poeta", de Nicolas Poussin, 1630. Dir-se-á porventura muito por aí que ninguém pode ser poeta simplesmente por querer sê-lo.

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Governar a gente como quem sente (Jeremias Cabrita da Silva)

(...) O poeta pode não passar, amiúde, de um lírico. Mas, se governasse, botaria certamente as causas para a frente, e, eventualmente, mais de acordo com as vontades da gente. (...)

Jeremias Cabrita da Silva

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sábado, março 04, 2006

"Jorge Palma, O artista português", Parte 6 e última (Entrevista integral, uncut, ao jornal Impress, 2003)

Mesmo gravando discos, e tendo atingido alguma notoriedade em Portugal, “fugias” para o estrangeiro, onde não raras vezes tocaste nas ruas e no metro. Eras ou és um homem em fuga? De quê?

J.P. – Aproveitei enquanto tinha pernas para andar. Às vezes, tenho encontrado a solução em mudar de ambiente. Muitas vezes na minha vida, quando me senti desconsolado, insatisfeito, a minha solução era fazer a mala e abalar, com a guitarra...

Mesmo sem rede... fugias de quê?

J.P. – Mesmo sem rede. Fugia em virtude do meu desagrado em relação à vida que estava a levar, e achava que a melhor maneira era ir dar uma curva.

Isso acabou? Agora já não podes fugir da mesma maneira...

J.P. – Eu não sei se acabou, quer dizer, para já, pela idade. Já não tenho a elasticidade, a paciência ou pedalada para...

Também já não precisavas de dormir na rua...

J.P. – Pá, se fosse preciso... Quer dizer, vemos aí muito boa gente... e nem é preciso ir para o Iraque. Em Lisboa vês aí gente a dormir na rua e alguns bastante velhos, já. Portanto isso... a necessidade, às vezes, a isso obriga. Mas, por outro lado, criei responsabilidades. Os filhos... e a relação com a editora (os contratos são de outra forma), com o meu manager... Há uma máquina montada de modo que eu, neste momento, acho que não tinha coragem de ir para as Bahamas... Para as Bahamas!, para Timor ou... mas nunca se sabe. De qualquer maneira, como tenho tão boas relações com o público, com todo o establishment, no fundo, com os músicos... tenho a minha banda, neste momento há o projecto Cabeças no Ar, estamos na estrada, começámos na semana passada e, sei lá, estão sempre coisas a acontecer, há imensa gente a pedir-me letras e músicas e, portanto, neste momento não me passa pela cabeça, embora vá mudar de casa, fazer essas saídas. Também acho que há uma idade para tudo... Aos cinquenta e tal anos há pessoas que fazem mas...

Ainda hoje trabalhas por encomenda. Encaras isso como uma forma de sustento ou nem por isso? Ou seja, quando passas 14 anos sem gravar, e apesar do reconhecimento que já te era devido e as solicitações, isso seria mais uma forma de sustento, ou o que propriamente gostarias de fazer?

J.P. – Nem por isso porque, normalmente, essas coisas não são bem pagas. Eu não ganhei muito dinheiro nem nada que se pareça, ou seja, não poderia sobreviver do meu trabalho em peças de teatro ou...

Era mesmo por prazer e pelas pessoas?

J.P. – Para já, pelas pessoas que envolve, desde o Jorge Silva Melo ao Rui Madeira, ao Manuel Sintra. Depois, pelos actores: a Maria Velho da Costa, a Regina Guimarães, as pessoas com quem trabalhei, o João Barreto... Todas essas pessoas me ensinaram qualquer coisa. Era uma questão até de prestígio e de uma aprendizagem fundamental. É daquelas coisas a que eu nunca diria não e, por exemplo, quando faço letras ou músicas para alguém, como para o Gonzo ou gravo com a Né Ladeiras, não me vem praticamente dinheiro daí. É mais pelo gozo. O dinheiro vem sobretudo de espectáculos.

Mas, com essa dispersão, podias não conseguir dedicar-te a fundo ao mais sublime da tua criação...

J.P. – Isto é uma questão de saber gerir o tempo porque, às vezes, curiosamente, quando eu estou empenhado em qualquer coisa que me dá muito trabalho, como foi o caso das canções de Brecht, ou quando surge “Os Filhos de Rimbaud”, por exemplo, em que eu tive de, repentinamente, escrever quatro músicas, isso estimula as minhas células cinzentas e, portanto, a minha actividade, a minha capacidade de trabalho, aumenta. É uma questão de se saber gerir, de se aproveitar o balanço, a inércia, a velocidade a que vou, e aí consigo muitas vezes desdobrar-me e escrever canções para mim. Eu não tenho uma caixa de velocidades ajustada para... isto é um bocado ao sabor do que vai acontecer. Sou capaz de estar aparentemente sem fazer nada, sem sequer estudar piano durante uns tempos...

Está aí sempre a fervilhar qualquer coisa...

J.P. – Pois. Isto está em ebulição. E normalmente não me preocupa. Parece que, de facto, passou muito tempo entre dois discos de originais. Agora vai passar menos.

De forma sintetizada, consegues identificar uma mensagem predominante, ou várias, que subjazam na tua obra?

J.P. – Sê quem tu és (risos). E procura sê-lo o melhor possível, descobrir a força para te afirmares não de uma forma prepotente, mas com jeito e com espírito humanista, se quiseres. Os valores da liberdade e da justiça, da verdade...

Dada a clara consciência crítica e social que a tua obra também revela, com que olhos vês a presente conjuntura internacional, os tempos que correm? Tens posição política?

J.P. – Há uma certa desilusão, mas tu tens consciência das tuas próprias limitações a esse nível porque...

Não és um Super-Homem...

J.P. – Não, e há muita gente com boa vontade, por diversos métodos, desde os pacifistas, que se manifestam, até pessoas bem intencionadas que foram para lugares de poder. Acaba por ser cada vez mais nítida para mim, e acho que para toda a gente que queira olhar, a grande fraude institucionalizada por todo o lado, as ambiguidades, as ganâncias, a febre do poder...

Tu não almejas um papel na consciencialização das massas, como um Zeca Afonso ou outros?... As revoluções são sempre necessárias.

J.P. – Pois, epá, eu procuro dizer o que penso e o que sinto...

Mas tens um bocadinho disso, de revolucionário...

J.P. – Eu acho que sim, mas, quando faço alguma coisa, procuro fazer reflectir o que estou a sentir nessa fase, as coisas de que entretanto me apercebi; tento reflectir aquilo que sinto e penso. É a minha maneira de contribuir para que as consciências possam ser alertadas.

Não pensas na “internacionalização”, em dar o salto, ter visibilidade além fronteiras?

J.P. – Eu sei que em Espanha, Salamanca, há pessoal que me curte, sei que há italianos em Florença, em Cambridge há núcleos estudantis que conhecem a minha música. Sei que tenho coisas que são utilizadas por professores para ensinar a língua portuguesa.

Voltando, e para terminar, tens posição política?

J.P. – Não é por acaso que são os partidos de esquerda que me solicitam, mas se organizações de centro-direita me convidarem profissionalmente, eu não recuso desde que não haja censura. O importante para mim é que não interfiram naquilo que tento dizer.

FIM

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sexta-feira, março 03, 2006

Nota temporária

Aos estimados leitores:
O cantante do Caderno de Corda sofre, de momento, de proverbiais problemas técnicos. A situação será corrigida muito brevemente.

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Entre Vigo e Baiona, descobrimos um miradouro no alto de uma montanha. Pausa contemplativa...

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quinta-feira, março 02, 2006

De regresso

Regressado hoje a Lisboa, tentei, por todos os meios possíveis, ver finalmente o míssil teleguiado a 99 km horários de Robert ao Porto, que, segundo li, foi apelidado de robertocarlosiano. Não vi o golo, mas soube o resultado logo após o final do jogo, quando jantava num restaurante na cidade de Vigo, cujo simpático dono, que trabalhou num restaurante em Lisboa dos seus 12 aos 18 anos, se preocupou com os visitantes lusos e benfiquistas, não perdendo o fio à meada do que nas páginas informativas do teletexto televisivo se ia actualizando, para assim inteirar-nos devidamente. Adiante, Vigo não é uma cidade particularmente bela, não podendo gabar-se da profusão de edifícios ou monumentos históricos. No entanto, plena de avenidas largas e edifícios, tornando-se monótono e omnipresente o granito, é impossível não referir a extensa zona portuária, onde desponta o mais importante porto de pesca de Espanha. À descida, evitámos a auto-estrada e viemos por ali abaixo, juntinho ao mar, até ao rio Minho, atravessando-o de barco, dando entrada em Portugal por Caminha. Antes, perdemos (ou ganhámos) uma hora de viagem, presos à entrada da avenida principal de Baiona, ao entardecer na baía, onde, àquela hora, naquele dia, se festejava o Carnaval, dando-se lugar a um exuberante desfile com, à cabeça, uma caravela, talvez recordando o tempo em que Baiona fora um importante porto comercial, antes de eclipsada por Vigo - ali chegou, a 10 de Março de 1493, a caravela La Pinta, trazendo a notícia de que Colombo descobrira o Novo Mundo. Não direi nada das belezas naturais locais que enchem olhos, coração e mente de quem desça a costa galega. Limito-me a afirmá-las e a, quase como quem considera naturalmente a Galiza território mais português do que outra coisa, afirmar também a máxima do marketing turístico nacional: "Vá para fora cá dentro", que a Galiza mais depressa há-de ser nossa, do que nós de Espanha! Toma!

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