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segunda-feira, maio 30, 2005
Afogo
Seguro está quem nunca soube;
Seguro está quem nunca viu
Palavra que na língua soube
A fel e amargura no teu peito;
A palavra sobre a qual deito
A cabeça cansada da ternura
Falsa que não enjeito.
Segura na mão a pedra
Impenetrável que não sonho.
Desejo o momento de repouso
No teu ventre vazio que não ouso
Pensar na voz que ouço,
Dormir e morrer neste sono,
Pois que a noite era uma menina
E vivia só a uma esquina;
Metia drogas e vaselina
E desaparecia com a manhã
Tal qual sol e noite
E lua e dia,
E depois, como sempre,
Simplesmente desaparecia
Desencontrada e esguia,
Oferecida e fugidia,
Conselheira e matricida,
Pois seguro é quem não duvida
De algo que não se suspeita;
Quem não tenha sonhado
Ultimamente a vida
E lhe suceda criatura seca e fria,
como a pedra que não sonho
na tua mão;
Como quem a vida morra dia-a-dia
Num sono mais profundo que a aparência,
E a mim, parece tudo quinta-essência
De um momento breve e aturdido
Após quinta destilação...
E de tão terrível disposição
Não distingo agora a Terra de um estéril promontório...
Maldita a insustentável reinação
Daquilo que é o falso sentimento de mim mesmo e o contrário.
Faz assim a consciência cobardes de todos nós,
E todos nós unidos por sermos cobardes solitários,
Avaliando o bem e o mal,
Atentamente observando a ponderação nervosa e imprecisa
Do fiel da balança antiga,
Daquelas que ainda se vêem numa ou noutra mercearia.
E depositamos toda a nossa certeza e ciência numa lingueta
Indecisa ou pervertidamente manipulada.
Que tempos estes, de profetas armados...
Em parvos!
Que tempos! de avassaladora confusão.
Pois que acabemos guiados por astros
Se não se der maior revolução;
Revolução de cabeça e coração,
Pois todos sabemos distinguir o homem bom do homem mau,
Independentemente do uso prático da razão;
De ritos de passagem sustendados na crendice vegetativa da multidão,
Em tempos da palavra esquecida,
Por mais que reproduzida, por mais que repetida.
Por quem juram aqueles homens?
Em nome de Quem matam eles?
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Parabéns Setúbal!
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domingo, maio 29, 2005
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«É vencer, é vencer! É ganhar, é vencer!»
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sexta-feira, maio 27, 2005
"E por dentro do amor, até somente ser possível amar tudo, e ser possível tudo ser reencontrado por dentro do amor." (Herberto Helder)
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Paredes
O tempo amordaçado
No som mudo de um século
Em pantomima coreografado
E televisionado a preto e branco,
Depois a cores,
Que ao cinema também deu alento
O Paredes e as suas dores,
Que pelas mãos duras e decididas
De génio predestinado
Coloriu e fecundou a imaginação
De mil imagens, com a guitarra a seu lado.
Só Paredes quebrou paredes,
E todo o som brotou
E saciou todas as sedes;
Os cansaços atenuou.
Que um homem fez aos outros sentir
O que era ser quem eram;
Que de si mesmos não queriam fugir
Como outros que em si desesperam.
Pois o vagar não é paciente
E o ensejo não espera
O momento certo da gente
Fazer que o tempo perca.
Porque urge ser sublime
No bater do coração,
Na guitarra que sobe acima
Do Paredes, a respiração,
Que bem se ouve na reticência
Das notas da guitarra em suspensão
Como se ele inspirasse o fôlego
Dos dedos às cordas, vibração.
Só Paredes quebrou Paredes
Em todos os silêncios que derrubou,
Em todas as palavras secas
A saliva que guardou.
Só paredes quebrou paredes,
Som liquefeito no nosso imaginário,
Abraçando-o delicadamente,
Como brisa sibilante, fez o verso e o contrário.
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quinta-feira, maio 26, 2005
Jogo das Cadeiras
Fome aos olhos de quem não vê nem sente
Numa música que pára abruptamente
O ludo de cadeiras dentro de um palacete.
Sentam-se reis num jogo de leis
E somos mais deprimidos quanto mais nos querem deixar contentes,
Procurando não pisar um amigo...
E uma cadeira para tanta gente...
E vê-se bem na tv
Nosso espaço sideral
Quem não sabe é como quem não vê
E quem sabe, não perde tempo
Por sinal
Se emite o mundo aos homens
A verdade em pacote e a equidade em gumes afiados
Não sei se não se sentam reis
À sombra de leis que não são senão reais para os seus criados
E vê-se bem na tv
Quem não sabe é como quem não vê,
Nosso implosivo espaço sideral
E quem sabe, não perde tempo
Por sinal
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quarta-feira, maio 25, 2005
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Adaptação algo mimética do "Malmequer Pequenino"
Por teu amor me perdi,
Agora todos os ais são meus,
Resta o plágio do que senti
Na agonia de não poder dizer
Da forma que mais se afeiçoa
Algo que sinto poder ser
Mais uma canção de Lisboa
Que não há coisa mais bonita
Do que ser simples sem saber
E não há regra nem limite
Para o que se sente, dizer
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segunda-feira, maio 23, 2005
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Um fim-de-semana em cheio - Benfica Campeão
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sexta-feira, maio 20, 2005
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Adaptação para o "Fado Menor"
Em lágrimas que não choro,
Que as lágrimas aliviam
Mas não clareiam os olhos.
Escrevo-te junto à foz
E já vejo o sol posto.
Lágrimas sem a tua voz
Purificam o meu desgosto.
Um barco dizia o teu nome;
Escrevi outro verso por ti:
Sem ti sou meio homem
Ou menos que isso, enfim.
Dizes que já não me queres,
Que nós chegámos ao fim.
Porque é que tu me entristeces?
Porque é que eu te quero assim?
Sabes que aqui te espero
Com as mesmas roupas gastas.
O tempo cura o desespero,
Até lá, que queres que eu faça?
(diminuto / decrescendo)
E quase diria a grande senhora:
(epílogo /crescendo)
Todos os dias te quero,
todos os dias me faltas!
Todos os dias te quero,
todos os dias me faltas!
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A confirmação da portugalidade fadada
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quinta-feira, maio 19, 2005
Praça da Tristeza
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quarta-feira, maio 18, 2005
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Nota Autoral 1 - Universo de 1
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Universo de 1 (Baby Jane)
O poder de ter o teu e então brincar
No dorso de um animal,
Uma cenoura num fio
Como um telejornal
No mundo visual,
Cor daquilo que se é ou se pertence...
E sem saber, já se tem religião
Como o político que ganhou a eleição
Temos de entrar para poder sair
Partir é chegar e chegar será sempre partir
Se tu pudesses ver
Além daquilo que se pode ter,
Como átomo e electrão...
Pode ser...
Como a terra e o sol,
Ou inverter...
A escala é nossa invenção,
Como dizer?...
Tudo isto é anzol
E tubarão
Temos de entrar para poder sair
Partir é chegar e chegar será sempre partir
Temos de entrar para poder sair
Partir é chegar e chegar será sempre a partir,
Sempre a partir
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terça-feira, maio 17, 2005
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Janine et Marcel à la Gare Saint-Lazare
O chapéu elegante, a pena de uma ave ainda viva.
Torcia o sorriso, terminado em duas covinhas.
Marcel, de uniforme, todo aprumado, também sorria.
Por debaixo do bigode, notava-se, oblíquo.
Desce apressado e decidido breves escadas
E salta para o apeadeiro e esquece o comboio.
Abraçam-se longamente.
Janine pare uma lágrima e represa outra:
A da confirmação do tempo impossível.
Contemplam-se a inevitabilidade desfigurados,
Abraçam-se desesperadamente desesperados
E quase se fundem em explosão.
À volta, desaparecera a multidão,
O estrépito e o fragor da estação.
Liquefizeram-se em consubstanciação.
Marcel agarra Janine pelos ombros
Com a mesma força com que combatia;
Com a mesma expressão catártica;
Os sobrolhos engelhados;
Olhos esbugalhados.
Perdera a expressão doce e límpida na guerra,
Viu Janine,
Que ofereceu a Marcel a rosa esmaecida,
E nunca até aqui uma palavra proferida.
- Vai partir. Vou...
Janine desbota,
Engole as palavras que nunca disse.
Sufocara-as cada segundo da sua vida,
Desde o dia em que um mensageiro da morte
Lhe deu a notícia.
Foi em França, no Norte,
Onde ele desembarcou.
Janine casou-se
Três vezes
E em todas as ocasiões,
Na lapela do casaco,
Uma rosa.
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segunda-feira, maio 16, 2005
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domingo, maio 15, 2005
Rescaldo de um sábado festivo
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sexta-feira, maio 13, 2005
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Conversa da treta entre um benfiquista e um sportinguista - Futurologia Parcial
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Escrever é Esquecer (F. Pessoa)
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quinta-feira, maio 12, 2005
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NOTA EXPLICATIVA 2 - MARATONA DE MIM EXANGUE EM MÁGOA DESMAMADO, Fecho do Livro Segundo
"Não está só a solidão." Ao ouvir a "Canção de Lisboa", descarrilei, mas não tanto. Para escrever não posso ouvir o Jorge, pois, se oiço, deixo-me conduzir. Se pudesse, diria tudo exactamente como ele, o que seria plagiato. Visto que "NOTA EXPLICATIVA" titula este post - que de explicativo não tem nada até ao momento -, concluirei: A solidão, a mágoa, a desilusão, a angústia, a melancolia, a tristeza, o desgosto, a amargura, e, vá, algum saudosismo oracular, fatal e fatalista, são marcas indeléveis na grande parte dos textos (chamar-lhes-ei poemas) publicados desde o fecho daquilo a que chamei "Lohengrin, Livro Primeiro" (26 de Abril, 2005), até agora. Seja a sua coerência anacorética, se outra não se encontrar. Atribuirei também a este segundo conjunto de poemas a denominação de "livro", método estruturante semelhante àquele que etiquetou "Lohengrin". Será este, portanto, o "Livro Segundo". "Maratona de Mim Exangue em Mágoa Desmamado", nomeia. Surgiu rapidamente e é mais cabeçalho do que título, pelo menos a meu ver. Apenas por uma questão de alinho e método optei por "arrumar" este pequeno bloco de textos, filhos localizados de solidão dedicada.
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Obrigação (J. Palma)
Eu sei que tu tens razão",
Dizia-te eu, às vezes, para acabar
Com a discussão...
E lá íamos vivendo
Entre dois copos e um bom colchão.
Um futuro à nossa frente
E muito amor para mostrar a toda a gente
Como era bom vivermos a dois
Sem nos darmos mal
(uma canção estrangeira e um filme antigo no telejornal).
E uma noite tu disseste:
Já dei p'ra ti meu... vou arrancar!
E lá fiquei eu, sozinho,
A conversar com os meus botões
E a tentar descobrir a causa
Que nos levou a tal situação...
Já achei uma ideia que é bem capaz
De ser a solução:
Acho que nós passámos muito tempo
A misturar tripas com coração,
E a verdade é bem diferente:
Para haver amor, não pode haver o-briga-ção.
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quarta-feira, maio 11, 2005
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Uma Vez um Viajante
pela estrada segura, um viajante,
não mais que um homem
talvez destinado, ou talvez à procura,
num passo arrastado, cansado, errante.
Um homem igual, temerário,
segue rumo Norte por estrada segura.
O homem, um viajante,
com destino traçado, passada errante.
Seja o homem passado,
apenas corpo presente;
seja o homem silente,
a fímbria vazante.
De onde vem o viajante?,
que passa tão perto,
no entanto, distante?
Quem será este homem vazio?,
como tanta outra gente,
lançando o anzol ao rio?
Quem será o passageiro ausente,
esperando o destino que dita o tempo,
vagando paciente.
Este homem e esta gente
que passa a vida dormente,
silenciando o corpo,
mas pior, o coração e a mente.
Esta gente que passa
pela estrada segura
e que nunca me abraça,
nunca perdura...
Só há uma vidraça
por onde espreito de fora
e vejo a gente que passa,
e sinto o peso do tempo,
o corpo cansado,
e só tenho agora.
Amanhã levantou-se tarde
o que podes fazer hoje.
E além, quem lá vem?
Um viajante sem emprego,
por entre seus dedos se escapa, foge
o destino ideal, o amor cego,
a areia da ampulheta que ruge
o tempo que falta
no toque fugitivo
do homem sem emprego
que o olhar assalta
apenas o chão, pensativo.
Assim, o viajante passa
pela estrada segura.
Eu espreito pela vidraça,
que sei, um dia será quebrada
pela bola de uma criança
numa vida futura.
Resolvi não sair da carapaça.
O viajante passou consigo próprio.
O tempo passa...
e ele mais distante.
Não discutimos doença
nem procurámos a cura,
e ele, lá longe,
talvez destinado, ou talvez à procura,
um viajante, sem escolha, pela estrada segura,
como eu, um homem!, não mais,
paciente como fruta madura.
Além, quem lá vai?
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terça-feira, maio 10, 2005
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Estou em Dor
Inércia que me cansa, amarga doçura...
O sol que ao se pôr me descobre;
a cama que me deita e me soçobra.
Sou tua escuridão cansada e ainda inquieta.
Me camufla e protege na penumbra,
me ensombra e me soletra,
me espreita, do cimo da placa que se encontra na viela.
Sintoma de carência, quase loucura,
esta forma de indecência, amarga doçura...
Teu corpo que se ergue e que eu conheço como nenhum outro,
instante fugaz...
Sou porto que alberga barcaças fatigadas, empurradas a eito por
incertas marés.
Sintoma de demência, mais que loucura,
sobressalto em que me deixas...
Sou poesia, serei todo brandura,
serei todo saudável indecência
em noites passadas que na memória me deixas;
em noites que virão depois de uma noite futura.
Ah! Sintoma de uma vã esperança
de que tu ainda sejas a cura;
que tu ainda sejas a lança
que no meu peito aberto perdura.
Sintoma de doença, loucura,
sobressalto em que me deixas, amarga doçura.
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segunda-feira, maio 09, 2005
Por Debaixo dos Escombros
E agora estamos apartados.
Ressoam as palavras que me dizias ao ouvido
Quando me pedias para arvorar os teus sentidos
E me beijavas puxando-me para ti,
Fazendo o que querias de mim.
Ouço as palavras feias que me dizias ao ouvido,
E me agarravas estátua de mármore,
Me lançavas serafim do paraíso
Não sei se para portas do inferno em choro e riso,
Obra-branca-prima de Rodin.
Brinca, puxando-me para ti,
Fazendo o que queres de mim,
Algures nunca no divã.
Dizes que já não me amas.
Terás alguma vez amado?
Tocaste o meu corpo,
Que conheces, e que eu, assim como tu, ignoro,
Sem as nossas almas teres encontrado?
E se eu olhar meigo nos teus olhos,
Que me dirão eles, outrora doces?
E se procurarmos nos destroços,
Não haverá nada de nós os dois?
Toma como certo: Se passarmos p’los escolhos
Temos a praia depois.
E foram tantas provações,
Tantas dores lancinantes,
Tantas impossíveis desilusões,
Que a vida custa a ser vivida,
Daqui e em diante,
E sem ti nada será como dantes,
Como nada o terá alguma vez sido.
Choro, lagrimejo, mas não grito
Como no dia em que tenha nascido.
Não tivesse eu gritado de todo
Para ter de viver no assombro
De não ouvires sequer o que digo;
De não me sentires contigo
A cada segundo que passa.
Nem me assomo da vidraça.
Não me deixo sequer olhar
O sol que nasce, a gente que passa,
Pois tudo é tu no seu estar
E tudo sem ti é só desgraça.
Fecho os olhos e fujo para o meu casulo.
Fecho-me em casa.
Durmo.
Passo o ferrolho da abstinência de lutar
Que sem ti não há causa justa a travar.
Nos meus membros, a vã indolência de cobarde,
Mas paira em mim ainda a inocência
Que crê não haver tempo para ser tarde.
Todas as palavras que escrever
Não serão aquelas que te diria.
Talvez por isso as escreva, talvez um dia...
Talvez descubra que palavras farão a tua alegria.
E sei que me dirás que todas elas são vãs
Como o sol te traz a mim, dolorosamente, todas as manhãs.
Imagino-te a acordar, estremunhada,
Como se visse renascer uma amena alvorada.
Os olhinhos pequeninos,
A pele branca e macia
Onde eu fazia ninhos
E hoje faço nada.
Talvez nunca te descreva...
Ou talvez um dia...
Ressoam palavras que me disseste ao ouvido.
Refulgem dias claros e felizes ao teu lado,
A cabeça no teu ombro,
A tua mão na minha.
Ouve-me por uma vez na vida!
Por debaixo dos escombros,
Vai estar uma menina.
Ela há-de estar ferida
E precisará do teu socorro.
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domingo, maio 08, 2005
Já (A. O'Neill)
não é aquioje?
já foi ontem
será amanhã?
já quandonde foi?
quandonde será?
eu queria um jázinho que fosse
aquijá
tuoje aquijá.
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Debaixo da Ponte
onde água não corre,
bebi água da fonte, um chafariz.
Minha centelha padece, morre.
Meu pensamento vai longe,
desde onde o sol me socorre.
Penso grande e fujo,
fazendo-me pequeno, só, e ninguém me acode.
No entanto sereno, dentro de mim chove.
Sou no mar um marujo
e uma imensa tempestade.
Que posso fazer? Renunciar um amor?
Abdicar de ser? Ser insensível à maior dor?
E assim, suspirante e errático, cá estou, dentro de mim,
ao fim da tarde, debaixo da ponte.
E que ponte, afinal!
Mas eras tu a minha fonte,
a minha praia e o meu farol.
Estou de novo com o pensamento em ti
e já nem o sol me socorre.
Só és tu e eu e este sol,
que até ele já me foge.
Começo a perder o seu sentido,
por detrás da ponte.
Já nem o meu astro das coisas certas me aquece.
Uma lua mentirosa desponta.
A lua, essa, será tua.
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sábado, maio 07, 2005
Impaciência, solitude, aridez e... mais tempo perdido
Há duas noites que não vivo,
E hoje vejo-te, ó noite,
Descoberta por um fio de cabelo.
Não tenho sono,
Por isso não me deito.
Sou esponja morna
De vapor rarefeito,
Seja lá isso o que for.
Tudo o que podemos fazer
É intentar e receber
O que for que se nos depare.
Por vezes por um motivo se parte,
Parindo a custo um novo início,
Porque errando se procura a sorte,
E o audaz é feito príncipe.
Hoje não me parece que durma já.
O ambiente é o propício.
Eliminei o monólogo rumoroso da tv.
Temple of the dog no leitor de cd’s.
Tentei escrever sem fazer caso
E talvez sem um ponto de vista;
Uma premissa narrativa,
Para que tudo parecesse ao acaso.
Mas como quem ao vocábulo não resista,
Deixei-me simplesmente ir à deriva
Soltando as palavras
E os sons que nelas vivem.
Mesmo que nada me incomode tanto
Como a desilusão de uma mulher,
Desato a escrever
Algo que outra coisa possa parecer.
Que talvez nada me reste agora,
Descrendo de um novo começo,
Porque não o subscrevo,
Porque me foi cominado,
Porque me foi infligido.
E tudo o resto que se colher
Arrecada-se sem glória
Pois este Verão é tão faustoso
Que o que me deste é sobejo imaturo,
Restos de amor de ti, mulher!
Queria acreditar que se é o que se quiser,
Que por nosso punho escrevemos nossa história,
Mas a história é escrita por quem sai vitorioso.
Um fruto de maduro cai
Em restos de amor de ti, mulher!
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sexta-feira, maio 06, 2005
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Jorge Palma no CCB - Primeira noite, 5ª feira
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Vem Ver
vem ver como eu estou bonito.
Meu amor sentido,
vem ver como te admiro.
Vem ver-me nu, para ti,
meu corpo perfeito e sem delito.
Meu amor fugido,
meu amor esvaído dos meus pulsos,
vem ver-me de qualquer forma,
nu ou vestido,
que sou o mesmo eternamente teu,
sem pudor e sem prurido.
Meu amor aflitivo,
torrente incompanhável
de um rio no seu indefectível curso,
que em si não sobrevivo,
se ao teu tronco não me abraço,
se para ti não me debruço.
Sem ti, ao mar não sigo
neste rio tão caudaloso.
Estende-me a tua mão,
dá-me o teu braço,
precipita-te na multidão,
dá-me o teu abraço,
que sou eu, eu mesmo, e não
na multidão qualquer acaso.
Meu amor jamais vencido,
meu amor jamais tomado,
vem ver como te estou rendido,
vem ter-me a teu agrado.
E enquanto tu me esqueces,
para mim não sorrindo,
é o tempo em que te escrevo;
Todo o tempo te dedico.
Nada sentenciando, sublimando,
há esperança talvez zonza, talvez tonta,
em círculos que por ti ando
na bebedeira dos sentidos,
em loucuras que não comando,
por teu amor perdido,
por mim não esquecido,
em mim ablativo,
em mim amputado,
em ti desvanecido.
Vem, meu amor, vem!
Estou como quem nada tem.
Estou pelo teu namoro
ceguinho de choro,
e vou num vai-vem
à velocidade a que te adoro,
buscar-te à indiferença do futuro,
resgatar-te do uivo do passado,
dar-te um presente que esconjuro,
por agora já ter passado.
Vem! Vem para meu lado!
Onde as ruas não têm nome
e os bairros são de amor.
Onde não existe em nós a fome
que alcooliza o rancor,
mas uma fome, sim!, que come,
mas se alimenta de amor.
Perdoa-me, meu amor! Perdoa-me!
E agora, que te disse tudo,
que mais do que isto não consigo,
vou terminar o verso
como quem nada quer disto...
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quinta-feira, maio 05, 2005
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- Stone Gossard, in Musician Magazine, Maio, 1995 -
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Footsteps (Pearl Jam)
Don't even think about stoppin' by, don't think of me at all
I did what I had to do, if there was a reason, it was you...
Don't even think about gettin' inside
Voices in my head, voices
I got scratches, all over my arms
One for each day, since I fell apart
I did what I had to do, if there was a reason, it was you
Footsteps in the hall, it was you, you...
Pictures on my chest, it was you, it was you...
I did what I had to do, and if there was a reason
Oh, there wasn't no reason, no
And if there's something you'd like to do
Just let me continue to blame you
Footsteps in the hall, it was you, you...
Pictures on my chest, it was you, you...
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Tudo ou Nada
Um sentimento explosivo,
E para ti nem é importante;
Nem ouvirás o que te digo
Ou lerás o que te escrevo,
E uma dor que não se sente.
Lugar comum por onde sigo,
Por saber ser esse o mesmo alento;
Ser esse o velho caminho
Por onde os velhos andaram.
Mas é tudo ou nada,
mesmo que tente fugir.
És como Roma: A ti dá toda a estrada,
E eu tento correr e ir.
Mas até onde, se será tudo ou nada,
Na mesma estrada
Onde me prometeste acompanhar
Enquanto dela houvesse para andar.
Disseste que íamos continuar.
Mas mesmo sem ouvir o Palma,
Rendo-me por nem a mim conhecer,
Aquele a quem ultimamente eu quero chegar,
Numa dança monolítica,
Sonolenta e fatigada.
Com tanto por fazer, tanto por realizar.
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quarta-feira, maio 04, 2005
"Sol de Inverno e chuva de Verão não me enganarão" - Provérbio
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Inverno
As palavras escoaram o sentido das coisas
E os imprudentes intelectualizaram-se.
Captei o teu mais pequeno movimento
Enquanto a mão poisas, não poisas
e deixas voar-te com o vento.
Hoje a solidão deu comigo.
Dedicar-te um poema
Ideia
Tudo se perde
Se transforma
Se emudece
E esquece
Nem a pretensão
Um preciosismo
Apenas as palavras
Quase sem sentido
E –ismo
Solidão
Um tanque profundo
Azul mais escuro
Preto
Um rasgão
O peito
Azedo
Rancor
Perturbação
Amor acre
Mas o teu som é uma canção
O teu passo é uma arte
De uma academia de profissionais
Do poema
Parte
Perde-se
Suspira
Emudece
E esquece-se
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terça-feira, maio 03, 2005
segunda-feira, maio 02, 2005
Verão, pouca roupa, saudade, desdita e muita mágoa
Estou cego.
Sabias a mar, estavas salgada.
Era apenas suor.
Cheguei-me perto, toquei-te,
perdi o sentido.
Afastaste-me, brandiste gestos superiores.
Fiquei surdo.
Não consigo ouvir música.
Mas dei um trago de ti.
Embebedei-me quando te vi,
na saliva dos meus temores.
Cego, surdo, mudo, fica da minha mágoa a escrita.
E dei um trago de ti,
que de bebedeira nada senti,
mas reais são os tremores,
por não te ter aqui comigo,
por te tocar não te sentindo.
Ser projectado e magoado pelo zéfiro
da tua incandescência altiva,
brisa sibilina.
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Virtu
quero-te para que eu possa ser virtuoso;
para que os meus olhos possam
nos teus se encontrarem
e como irmãos possamos juntar nossas mãos,
como fizeramos, nus, num último reduto do paraíso.
Veio o nosso tempo de brilhar
e trazer as luzes aos nossos sonhos,
dar ao sol o suor dos nossos corpos.
E se precisares apenas de um amigo,
cá hei-de inevitavelmente estar,
para que a tua virtude me guie.
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domingo, maio 01, 2005
A vida é um hábito (S. Beckett)
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